sábado, 21 de novembro de 2009

STAR TREK(2009)
diretor:J.J. Abrams
roteiro:Roberto Orci,Alex Kurtzman
elenco:Chris Pine,Zachary Quinto,Eri c Bana

Cinema é uma indústria,isso todos devem reconhecer,engolir e aceitar.Um filme com um orçamento de 150.000.000 dólares não é apenas um filme,é um empreitada.Assim como quando um empresário faz um grande investimento,ao realizar uma mega-produção deve-se conhecer os riscos,as possibilidades e principalmente o lucro que o negócio lhe dará.Mas quando nos deparamos com filmes como "Star Trek",o que dizer? Pode parecer um tanto fútil e bobo,mas é um blockbuster feito com o coração.Sabe aquele negócio de 'carinho de mãe',quando um objeto passa pelo calor materno? Então,"Star Trek" possui 'carinho de fã'.Ou seja,é um produto feito por gente que realmente gosta do que faz.Aficionados por ficção científica,cinema e Star Ttrek.São grandes nerds que fazem a vida dos nerds ordinários mais feliz.

Star Trek,ou Jornada nas Estrelas,é um seriado americano sessentista criado por Gene Rodenberry.Explorando o ainda obscuro gênero ficção científica,a série começou com baixos niveis de audiência,e se manteve viva graças a força de seus fãs,os chamados trekkers.Desde então,foram seis seriados diferentes sobre o universo estrelar e onze filmes para cinema contando com este.Esta nova empreitada vai onde produtor nenhum no mundo jamais esteve,mexe no texto original da saga defendida a sangue e suor pelos fanáticos,propondo um ousado reboot.Que nada mais é do que dar uma nova roupagem tanto na estética quanto na trama original do seriado.Um ato corajoso que gerou muita desconfiança até a estréia,quando surpreendeu."Star Trek" arrebatou novatos(como eu),e emocionou velhos trekkers.

O grande nome por trás disso tudo é J.J. Abrams,realizador vindo da televisão,onde foi o responsável pelo famoso "Lost".Com Star Trek,Abrams consolida seu nome no cinema,se mostrando um diretor de mão firme,extremamente hábil e criativo,mesmo trabalhando sob pressão num projeto gigantesco como este.

sinopse: Inconformado com a morte do pai,Kirk é um jovem rebelde que recusa aceitar o peso de seu sobrenome.Spock é um vulcano que abandonou o planeta devido ao preconceito a sua metade humana.Juntos,os dois acabam na tripulação da U.S.S Enterprise num histórico reencontro com uma nave de Romulanos comandada por Nero,um antigo vilão da Frota Estrelar.

Muitos torcem o nariz quando se fala em longas sagas de ficção científica,repletas de detalhes e complicações em sua trama.Felizmente,Star Trek caiu na mão insuperáveis criadores de entretenimento.Antes de fãs da saga,Abrams e sua equipe dominam a arte de chamar público,de convencer.Por isso,o resultado é prazeroso para ambos os tipos de público,fãs e não-fãs.Claro que alguns pontos são reservados para trekkers,mas eles existem sem atrapalhar a diversão daquele espectador descompromissado,que se diverte com uma nova e inventiva história livre auto-explicações.

Nostalgia.O filme é banhado até a cabeça dessa tão especial fórmula.Obviamente,muita coisa mudou desde a série original até este filme,afinal,o futuro dos anos 60 não é mais o futuro do século XXI.Porém,o reboot de Abrams guarda em cada frase de efeito de Spock,em cada confronto de naves espaciais um inabalável ar de saudade.O motivo pode ser a música de efeito que inunda as cenas de ação,os diálogos fortes e marcantes ou então a grandiosidade da aventura. Ou talvez a razão para esse efeito nostálgico seja apenas a falta de bons blockbusters como esse nos cinemas.

Um blockbuster inesquecível é aquele que se destaca entre outros filmes menores.Não só pelo seus efeitos especiais superiores,ou então por um ou outro ator famoso.O que conta no processo de 'imortalização' do filme é a grandiosidade de uma trama bem construída e chamativa,que consegue balancear todos os sentimentos provocados por cada gênero: medo,risos,emoção,empolgação... Star Trek alcança tudo isso com folga.

O filme é tão "mainstream",que até os erros são os comuns entre esse tipo de produção.Marcam presença os típicos furos,ou melhor,furões na trama.E o uso excessivo do 'acaso',recurso proibido na dramaturgia convencional.Nos valiosos comentários do diretor e roteiristas que constam no DvD(ou BluRay agora),Abrams até tenta justificar o abuso de coincidências:
"Achei mais fácil para o público se simplesmente ignorássemos essas explicações. 'Destino' é uma palavra suficientemente forte e me convenceu"
Outra explicação foi a do roteirista Roberto Orci:
"uma teoria quântica que diz que em linhas temporais paralelas o tempo naturalmente tentaria consertar-se, facilitando encontros assim"
Enfim,melhor deixar a física de lado e apenas aceitar a natureza do filme.

É inegável que os efeitos especiais atuais alcançaram um nível de perfeição e um número de possibilidades quase infinito.O grande problema,é que com o tempo o público vai perdendo o entusiasmo com as milionárias pirotecnias digitais.Para impressionar o espectador hoje em dia,exige-se muito mais criatividade e perfeição das equipes.Star Trek consegue com certa facilidade deixar a platéia de queixo caído com seus efeitos,sejam eles mecânicos ou CGI(gerados por computação).Por incrível que pareça,combate espaciais e explosões sempre foram motivos de sono para mim.Star Trek me mostra como é possível impressionar o mais chato dos públicos.

Uma aspecto em que o filme tinha grandes chances de falhar,justamente pela sua grandeza,era o elenco,e mais uma vez a expectativa não se concretiza.Chris Pine é o novato responsável por Kirk,o protagonista.Pine possui aquela velha mistura de heroísmo e canastrice que o personagem tanto pedia.Assim como todos os outros membros da nave exalam aquele ar pomposo dos imortais heróis de ficção científica.

Tenho a impressão de que esse é um dos maiores textos que posto aqui no meu inóspito bloguinho.Não é nenhuma surpresa,muita coisa acontece com Star Trek.Abrams se consagra mestre em entretenimento de massa.Uma idéia velha e aparentemente apagada se torna o blockbuster do ano.A série Star Trek finalmente é apresentada formalmente a mim.Vou ver se confiro os primeiros episódios do seriado ainda hoje,embora o medo de me decepcionar seja grande.

"Vida longa e próspera"


nota:9,0

sábado, 14 de novembro de 2009

TWO LOVERS - AMANTES(2008)
diretor:James Gray
roteiro:James Gray,Ric Menello
elenc0:Joaquin Phoenix,Gwyneth Paltrow,Vinessa Shaw

Desde o Romantismo Literário do Séc.XVIII até o mais infame filme erótico,histórias de encontros e desencontros amorosos foram exploradas com todas as suas possibilidades,em todas as suas formas,sejam tradicionais ou inusitadas.Talvez seja o mote mais manjado de todos os tempos,seja na literatura,na música ou no cinema,o amor.Pense em todos os triângulos amorosos da sétima arte,sejam eles em comédias românticas,dramas,o que seja."Amantes" não faz nada de diferente,ele recapitula todos os percauços possíveis em um triângulo amoroso,a pieguice romântica,tudo isso de forma como ja se viu diversas vezes no cinema.A diferença aqui,é que temos uma ótica totalmente inédita de expressar o amor na tela.Um novo olhar lançado a esses clichês.Tomando lições de cinema e de dramaturgia,James Gray compõe sua obra-prima

Amantes é o quarto filme de Gray.Não chega a ser um diretor de vasta experiência,mas não é o que possamos chamar de iniciante.Basta reparar a autoridade com a qual ele assume seus filmes,tanto é que muitos já o consideram um dos principais diretores contemporâneos.Seu filme anterior,"Os Donos da Noite" era um drama policial sem ousadia e com um forte apelo comercial,e mesmo assim,ja chamava a atenção a maneira como Gray conduzia narrativa,a claustrofobia imprimida nas cenas tão bem filmadas.Agora,com Amantes,ele pareceu ter muito mais liberdade de criação,realizando um trabalho essencialmente autoral com traços auto-biográficos.

sinopse: Leonard(Joaquin Phoenix) é um perturbado homem solteiro que vive com os pais no subúrbio de Brooklyn.Sofre de transtorno bipolar e por várias vezes tentou o suicídio.Com a doença aparentemente controlada,ele volta a trabalhar na lavanderia de seu pai.Por intermédio dos pais ele é apresentado a Sandra(Vinessa Shaw),uma doce e sexualmente reprimida filha de um amigo da família.Ao mesmo tempo,ele conhece Michelle(Gwyneth Paltrow),uma misteriosa e atraente vizinha cheia de problemas pessoais.Lutando contra seu transtorno psicológico,Leonard se vê numa encruzilhada entre duas paixões.

James Gray parece dirgir seu filme na década errada.Filma cenas românticas do mais puro lirismo,assim como na Era de Ouro de Hollywood.Persegue seus personagens pelas ruas densas e lotadas dos subúrbios,assim como na Nouvelle Vague francesa.Um elemento ou outro ligam "Amantes" ao cinema atual,ao mundo moderno.Isso torna o filme ainda mais contemporâneo e necessário.Por mais anacrônico que seja,"Amantes" não é moda retro.É uma revisitação ao passado que revela o quanto a linguagem cinematográfica mudou e sempre tenderá a mudar.

Joaquim Phoenix enlouqueceu depois desse filme.Deixou a barba crescer,deu um uma vexaminosa entrevista no David Letterman e disse ter abandonado de vez a carreira de ator para se tornar rapper.Engraçado isso.Muitos pensam que a relação ator/personagem é muito distante,e que ator nenhum se preocupa em aprofundar-se psicologicamente no seu papel.Leonard ou Joaquin Phoenix,é um homem doente.Está cansado de viver em seu meio,de trabalhar com a família,está cansado da vida.Leonard/Phoenix,na trama de James Gray,esta dividido em duas mulheres,dois rumos completamente distinos na sua vida.Assim como sua mente,vítima do transtorno bipolar, está divida em dois perfis diferentes,o triste e o ansioso.Afinal,quem é Joaquim Phoenix e quem é Leonard Kraditor?

Se Leonard é o último papel da carreira de Phoenix,ninguém sabe,mas que é o melhor,isso é indiscutível.Não só da sua carreira,mas arrisco dizer que a atuação do maluco é uma das melhores em dramas da última década."Amantes" eleva Phoenix a um novo patamar de grandes atores da nova geração.Todo o elenco é perfeito,e as duas musas(Shaw e Paltrow) esbanjam beleza e o talento.O problema aqui, é que a forma como a trama é desenvolvida somada a maestria da atuação do protagonista,transformam"Amantes" num monólogo,onde estão apenas Phoenix e o público.

No desfecho das idas e vindas de Leonard e suas amantes,Gray opta por um final conformista.Podendo decepcionar ainda mais aqueles que esperavam aquele grande climax do final,recheado de sangue e tragédia.Mas,o cinema imposto por James Gray não baseia-se nisso,seu fundamento são os relacionamentos,os personagens,os seres humanos.

nota:9,0

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

ZOMBIELAND(2009)
diretor:Ruben Fleischer
roteiro:Rhett Reese,Paul Wernick
elenco:Jesse Eisenberg,Woody Harrelson


Resenhando mais um mega sucesso de bilheterias,eu chego num terrir(terror+risadas).Calcado de boas sequências de ação e diálogos rápidos,"Zombieland" segue a linhas dos "filme-homenagem" que estão surgindo na indústria nos últimos anos.Lotado de referências e alusões a clássicos do cinema,o trabalho de estréia de Ruben Fleiscer é uma divertida,descompromissada e mórbida aventura.

sinopse: O mundo foi contaminado por um vírus que transformou toda a população em zumbis.Os Estados Unidos agora é a "Zumbilândia".Como um dos únicos sobreviventes está Columbus,um nerd solitário que possui fobia de palhaços.Ele conhece Tallahassee,um homem destemido e cruel viciado em bolinhos recheados.Juntos os dois atravessam sem rumo a Zumbilândia,até encontrarem Witchita e Little Rock,duas irmãs que vivem de roubos.

Apesar da trama fraca e curta,"Zombieland" possui personagens que através de suas bizarrices conquistam o público.A característica é reforçada pelos ótimos diálogos criados pela dupla de roteiristas novatos Rhett Reese e Paul Wernick.Cada personagem possui um carisma especial que de uma certa forma carrega o filme nas costas.

Muitos realizadores de Hollywood,quando vão fazer uma comédia,conseguem criar uma boa idéia,bons personagens,mas esquecem do principal,as risadas.Com Zombieland,a quantidade de boas piadas e humor negro faz com que o riso seja constante,sem precisar recorrer ao escracho e ao besteirol.Felizmente, "Zombieland" não é "Todo Mundo Em Pânico".

Como se trata de um filme de terror mesclado com comédia,pode imaginar-se que "Zombieland" seja um exemplar trash.Muito pelo contrário,as cenas de ação e sangueira são irretocáveis,com um cuidado todo especial na montagem e na direção de arte.Na sensacional abertura,talvez o melhor de todo filme,vemos uma brilhante sequência exemplificando as regras de sobrevivência na Zumbilândia,e logo a edição de Alan Baumgarten salta os olhos.Um dos grandes segredos para que Zombieland seja tão divertido e seus 80 minutos de duração pareçam meia hora,é o ritmo fluido imposto pelo trabalho de edição.

A escolha do pequeno elenco é acertada.Como protagonista temos Jesse Eisenberg(A Lula e a Baleia),desempenhando mais uma vez um papel de um jovem retraído.Mas,o grande destaque é Woody Harrelson(Assassinos Por Natureza,Onde Os Fracos Não Tem Vez),genial ator veterano mostrando seu excelente timing cômico,as melhores sacadas cômicas acontecem com seu personagem Tallahasse.

Se definirmos "Zombieland" pela sua trama,infelizmente encaixaríamos ele na programação da "Sessão da Tarde".Mas com com boas atuações,edição competente e sarcasmo hilário,o filme se torna uma diversão de qualidade,sem deixar de ser absolutamente descompromissada.Enfim,não exija muito,mas prepara-se para 80 bons minutos de descontração.

nota:7,0

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

DISTRICT 9 - DISTRITO 9 (2009)
diretor:Neil Blomkamp
roteiro:Neil Blomkamp,Terri Tatchell
elenco:Sharlto Copley,Jason Cope


Deve-se definir melhor o que é "um filme independente".Distrito 9 tem a produção de Peter Jackson,uma campanha de maketing de abrangência mundial e um orçamento de 40 milhões de dólares,e mesmo assim vem sendo classificado por muitos como um filme de "baixo orçamento" ou "independente".Pouco isso influi na apreciação do filme,mas certamente deixa o pessoal "câmera na mão,idéia na cabeça" furioso.Entretanto,Distrito 9 é uma boa surpresa.Uma espécie de ficção científica politizada que deu certo.

Indo contra a maré das continuações e remakes repetitivos,Distrito é um filme original de muita criatividade.Dotado de uma trama furadinha mas inventiva,e uma narrativa que possui o valioso poder de prender o espectador,o filme acabou me surpreendendo positivamente

Com excelente recepção da crítica e arrecadação astronômica nas bilheterias,Distrito possui uma idéia original,mas o motivo de seu sucesso vai muito além disso.O projeto do novato sul-africano Neil Blomkamp teve a felicidade de ser 'achado' por Peter Jackson,que e o apresentou a Columbia,fazendo com que "Distrito 9" tivesse uma campanha de marketing viral enorme.E é por esse lado que o cinema caminha e deve caminhar,grandes campanhas de divulgação.Foi assim com "O Cavaleiro das Trevas",e está sendo esse ano com "Distrito 9".

sinopse: Há vinte anos uma enorme nave alienígena paira sobre Joanesburgo,capital da áfrica do Sul.Sem alternativas,os extraterrestres são obrigados a habitar o local,que acaba sendo denominado pelo governo como"Distrito 9".Com o passar do tempo os Alien são marginalizados pela população nativa,além de constantemente sofrerem com governo Sul-Africano.Agora,com a situação incontrolável,os governantes convocam a MNU(empresa privada de armamentos) para levar a habitação alien local para um deserto distante há 200 km chamado "Distrito 10".O encarregado de chefiar a missão é Wikus Van Der Merwe,o atrapalhado sogro do dono da empresa.

"Distrito 9" é uma das raras ficções científicas politicamente engajadas do cinema.A trama é uma clara alusão ao Apartheid,sistema de segregação racial que assolou a África do Sul por 40 anos.Troque os negros por não-humanos e os brancos por humanos e você tem o fundo político do filme.Assim como na história do país,a inferiorização dos aliens também é reforçada pelo governo,controlado por humanos.A trama ousa ainda mais,envolvendo ativistas dos direitos humanos lutando pelos direitos entre espécies.

Blomkamp opta por filmar a inusitada trama com o não mais original estilo "câmera amadora".Mas isso só até a metade."Distrito 9" pode ser dividido em duas partes.A primeira é a explicação,quando o filme assume a forma de documentário falso,mostrando um vídeo institucional da MNU retratando a entrada dos soldados no terreno alien,intercalando com depoimentos de falsos especialistas e habitantes do local.A segunda parte é a ação.O filme se torna uma ficção científica convencional,com um desenvolvimento rápido e diversas cenas empolgantes.

SPOILER
Essa divisão entre duas partes até um certo ponto dá certo,infelizmente a inexperiência de Blomkamp assola os minutos finais.O diretor peca pelo excesso de explosões,tiroteios e reviravoltas equivocadas.Até a chegar ao desfecho ,que não é nada satisfatório,principalmente para uma história que parecia caminhar para um final épico

Tecnicamente o filme não falha.Os efeitos especiais são irretocáveis,assim como o excelente trabalho de maquiagem.Entretanto,um dos melhores setores da produção são as atuações.Com uma trama tão atrativa e tantos efeitos especiais,é comum que esqueçam do elenco.Destaque especial para o novato Sharlto Copley,encarando seu primeiro papel de protagonista.Sem se intimidar com a importância de seu papel,o ator sul-americano tem um desempenho incrível,encarando todas as reviravoltas do humor de seu personagem,Wikus.

Interessante em sua substância,um pouco falho em sua execução,Distrito 9 injeta sangue novo na produção de blockbusters.O diretor Neil Blomkamp e o ator Sharlto Copley lançam seus nomes na indústria e Peter Jackson enche ainda mais os bolsos.

nota:7,2

domingo, 11 de outubro de 2009

ANTICHRIST - ANTICRISTO
diretor:Lars Von Trier
roteiro:Lars Von Trier
elenco:Charlotte Gansbourg,Willian Dafoe

Assim como uma grife de moda estampa sua marca em todos os modelos de sua franquia,Trier faz questão de por seu nome em evidência.O primeiro frame de seu novo trabalho é ,o seu nome em letras grandes e garrafais:¨LARS VON TRIER¨.Com carreira e arrogância já consolidadas no cinema mundial,ele lança sua mais controversa e importante obra."Anticristo" é um filme lírico,repleto de significados nas entrelinhas,recheado de violência gráfica repulsiva,e restrito da um público ínfimo que irá apreciar a obra.Já da pra perceber que é mais um "filme de autor"."Anticristo" não é suspense,não é drama familiar,não é pornô,muito menos terror,"Anticristo" é um filme de Lars Von Trier.

Foi Trier um dos idealizadores do movimento cinematográfico "Dogma 95".Uma série de regras seguidas por um grupo de cineastas europeus na década de 90.O movimento proibia trilha sonora,créditos,luz ou som artificial e cenografia.O objetivo resgatar o que seria o cinema na sua mais pura forma,um forma de protesto contra o uso do cinema como exploração comercial."Anticristo" quebra totalmente os tais "dogmas".O novo filme de Trier é uma experiência de cinema completa e poderosa.Música marcante,fotografia estonteante,câmera voyeurística,créditos grandes e coloridos.Isso sim é cinema na sua mais pura forma!

sinopse:Um casal acaba de perder seu filho de dois anos.Ele(Willian Dafoe) é um terapeuta que torna todas as pessoas ao seu redor seus pacientes.Ela(Charlotte Gansbourg) é uma historiadora que acaba se submetendo a um "luto anormal" após a perda do primogênito.Numa tentativa de acabar com o sofrimento da mulher,Ele leva ela até uma cabana numa floresta distante chamada "Éden”,local onde o "caos reina" .

Certa vez,Kurosawa disse que a primeira cena nunca deve ser a mais elaborada.É difícil pensar em algo do tipo,mas "Anticristo" é um filme que vale pelos minutos iniciais.Trier começa sua história com uma criativa e ousada sequência slow motion em preto e branco.A cena mostra o grande mote do filme:Enquanto o casal transa loucamente no banheiro,o bebê abre a trava do berço,sobe no balcão e se joga pela janela. Trier mira cada detalhe da cena,o pênis penetrando na vagina,um vaso espatifando no chão,o bebê caindo lentamente junto com a neve...Tudo isso embalado por um coral de sopranos cantando suavemente... As reticências servem pra você imaginar a cena em sua cabeça,mas algo assim,francamente, só a mente de Lars Von Trier pode imaginar.

Lançado em esse ano em Cannes,o filme,como se fosse novidade,dividiu a platéia.Ouve uma vitória parcial do time dos que vaiaram,mas os aplausos sem dúvida existiram.A principal crítica do povo que não gostou é a de que o Trier não diz nada.Segundo eles,toda a violência e o sexo do filme são gratuitos,apenas mais um fetiche do diretor obcecado por polêmica.Muito pelo contrário,"Anticristo" tem muito a dizer.

Talvez um defeito do filme seja ele dizer coisas demais.É grande o número de significados,de mensagens e de simbolismos na obra.É apenas uma questão de tempo para que cinéfilos lunáticos comecem a decifrar os enigmas de Trier. O primeiro significado é bem simples."Anticristo" é um manifesto feminista.Uma reflexão sobre a soberania do homem na relação de um casal e o papel da mulher através da história.O filme mostra o anormal luto e comportamento da personagem de Gansbourg como uma forma de revolta contra o papel da fêmea na natureza.Uma reflexão sobre a intransigência do sexo masculino e a eterna representação da mulher como ser sentimental com a única função de reprodução.O fato da floresta se chamar "éden" é uma clara alusão ao jardim da criação,o início da tradição repressora masculina.Ainda no final,a belíssima última cena também confirma a tese.

Anticristo seria um filme muito mais celebrado se Trier fosse mais benevolente com a platéia.Ele simplesmente não perdoa.É como se ele passasse a platéia por uma espécie de processo seletivo,um joguinho para ver quem fica até o fim sessão.É um filme difícil para qualquer espectador,mas é especialmente devastador para as mulheres,principalmente pelas cenas sado-masoquistas com Charlotte Gansbourg.Só na metade da duração,o público tem a infelicidade de conferir a primeira cena de mutilação genital em close do cinema.E o pior é que ela nada acrescenta a trama,que poderia muito bem terminar com menos sangue.

Se o senso artístico de Trier esta a todo vapor,o elenco também está no auge de seu talento.A trama possui apenas dois personagens,interpretados por uma dupla de atores geniais e subversivos,Willian Dafoe e Charlotte Gansbourg.Willian Dafoe já havia passado por uma situação parecida nos anos oitenta,quando protagonizou "A Ultima Tentação de Cristo" de Scorcese,um dos filmes mais polêmicos daquela década.A atriz francesa,Charlotte Gansbourg,se entrega totalmente a sua personagem,incorporando as cenas de dor e sofrimento de maneira impressionante.Mas uma vez se pode perceber a mão do diretor,sempre competente na direção de atores.

Mesmo com sua arrogância e orgulho,Trier admite suas influências.Logo na abertura dos créditos finais ele dedica o filme a Andrei Tarkovsky,falecido diretor soviético que influencia "Anticristo" da cabeça aos pés.Coincidentemente há um més atrás escrevi sobre "Sacrifício",aparentemente a maior espelho de Trier para filmar sua obra.O lirismo,a influência bíblica e o slow motion em preto e branco também são características do filme de Tarkovsky.

Tecnicamente perfeito,escrito e filmado de forma única,"Anticristo" é um filme diferenciado.Talvez um pouco depressivo e sangrento demais,mas isso são apenas ingredientes que fazem da obra uma experiência forte e inesquecível,cinema com C maiúsculo.

nota:8,0

CAOS REINA
Momento "Que Porra é Essa?!" do filme:



quinta-feira, 17 de setembro de 2009

STANLEY KUBRICK - A LIFE IN PICURES(2001)
diretor:Jan Harlan

Cada filme seu era uma revolução.Lançava a obra,e era aquele alvoroço na mídia.As platéias lotavam ou boicotavam a obra.A crítica amava ou apedrejava.Não importa o gênero,nunca existiu reação meia-boca.Pode se dizer que Stanley Kubrick era um diretor de extremos.Quando ele encabeçava a realização de uma obra de cinema,passava anos planejando,reescrevendo o roteiro,decorando a trama,pensando no seu próximo passo.Dotado de um perfeccionismo raras vezes visto na arte,pode se dizer que nunca ninguém levou cinema tanto a sério quanto Kubrick.Frame por frame,nos seus 16 filmes ele conseguiu marcar a história da sétima arte 16 vezes.

O documentário de Jan Harlan esclarece muitas coisas sobre a vida do mestre.Avesso a entrevistas,Kubrick vivia recluso e pouco da sua vida pessoal era divulgado.Associando seu comportamento em relação a mídia com suas obras transgressoras e revolucionárias,muito foi dito que Kubrick era um demente.O documentário mostra o diretor como um cidadão normal que vivia em função de sua família e de sua arte.

Os realizadores tiveram o privilégio de contar com depoimentos do mais conceituados diretores americanos contemporâneos a Kubrick.Polack,Scorcese,Allen dão suas impressões sobre a filmografia do homenageado.Assim como entrevistas com atores já dirigidos pelo mestre,profissionais técnicos e críticos de cinema.A narração fica por conta do mala do Tom Cruise,ator o qual seu melhor trabalho foi a última obra de Kubrick.

Bem editado e embalado pelas trilhas dos filmes do diretor,"Imagens de Uma Vida" é prato cheio para cinéfilos que anseiam em descobrir ligações entre a obra e a vida de Kubrick.Alguns podem até ter sensação de que falta algo,simplesmente pela falta de curiosidades excêntricas sobre o mestre.Mas o essencial e o trivial do que se deve saber sobre o mestre está muito bem representado em agradáveis duas horas.

nota:8,0

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

CIDADE DE DEUS(2002)
diretor:Fernando Meireles,Kátia Lund
roteiro:Bráulio Mantovani
elenco:Alexandre Rodrigues,Jõao Firmino,Matheus Nachtergaele

Há 44 anos atrás,Glauber Rocha criou a tal da "estética da fome".Um olhar cinematográfico especial para retratar a miséria do povo brasileiro.Nos seus filmes,Glauber mostrava sua visão mísera sobre a miséria do sertão nordestino.Desenvolvendo suas tramas em ritmo lento e com atuações teatrais,o baiano promoveu a inclusão da cultura brasileira nos filmes nacionais.Ninguém imaginava,que 37 anos depois a pobreza do povo brasileiro no cinema mudaria tanto.Era difícil prever a mudança que os filmes lançados nessas três décadas provocariam na visão dos cineastas brasileiros."Cidade de Deus",é,na sua estrutura narrativa,o extremo oposto dos filmes de Glauber.E,assim como os filmes do baiano,a obra de Fernando Meireles é um divisor de águas do cinema nacional do século XXI.Um drama envolvente,tecnicamente perfeito,que assim como possui influências claras,é também um poço inovação e originalidade.

"Cidade do Deus" envolveu alguns dos melhores profissionais de cinema brasileiros da atualidade.Todos reunidos para falar de um dos temas mais contundentes da produção cinematográfica nacional,a violência urbana.Na verdade,o tema não era tão contundente assim até lançamento do filme,em 2002.A obra gerou inúmeros debates,revelou novos talentos,ganhou prêmios mundo afora,e abriu caminho para vários outros filmes sobre a violência brasileira que viriam pela frente.E se já não bastasse a babação da crítica internacional em cima da obra"Cidade de Deus" tornou-se um dos filmes brasileiros mais populares de todos os tempos,a a violência nua e crua que chocou as platéias estrangeiras,divertiu o público brasileiro,que já adotou a famosa fala:"Dadinho é o c@!#$....." como um bordão popular.Portanto,já não serei o primeiro a ovacionar a obra-prima de Meireles,muito menos o último.

Diferente de Glauber,Fernando Meireles não possui nenhuma estilo próprio,ele procura reinventar-se a cada projeto.Isso mostra sua já assumida preferência em aproximar suas obras do público ao invés da crítica.É impossível defini-lo como um estilo,e sim com suas preferências e preocupações ao realizar um filme.Basta ter em mente que ele é um diretor que possui na sua filmografia um filme infantil "Menino Maluquinho 2" junto com o próprio "Cidade de Deus".Mas,além de tudo,ele é um grande orgulho para todos os cinéfilos brasileiros,que há tempos não tinham um conterrâneo alcançando voôs tão altos.Indicado ao Oscar,e diretor de outros dois excelentes filmes em Hollywood,"Jardineiro Fiel" e "Ensaio Sobre a Cegueira".

sinopse:Buscapé é um menino pobre,habitante da recém-inaugurada comunidade "Cidade de Deus".Com o tempo,a violência toma conta o local,que acaba se tornando uma das mais violentas favelas do Rio de Janeiro.Sensível e desorientado,Buscapé teme a vida de bandido,e busca na fotografia uma salvação.Pelas lentes da sua câmera,ele olha conta a história da favela e seus mais ilustres personagens.

O filme traça um interessante panorama do Rio de Janeiro dos anos 60,70 e 80.Reconstituindo com perfeição o período em nos bailes funk´s se escutava James Brow ao invés de Tati Quebra-Barraco.Todos os elementos culturais pertencentes a cada década estão presentes no filme,que são retratadas de forma linear,em três fases nitidamente distintas entre si.Mesmo assim,o ritmo nunca se perde,e até mesmo o interesse do público que não liga pra esses detalhes é mantido.

As principais críticas ao filme do povo que não gostou são:
1.Cidade de Deus glorifica a violência.
2.O filme passa uma imagem ruim do Brasil para o público estrangeiro.
Não considero o filme perfeito,impecável,mas não consigo compreender as duas afirmações.A primeira é a mais absurda."Cidade de Deus" é um dos mais bonitos manifestos pró-paz já feitos no cinema.Diferente do 'neo-noir tarantinesco' no qual o filme é muitas vezes erroneamente comparado,é explícito em cada cena de violência a discrição no qual Meireles e sua equipe tratam o tema.Sempre quando alguém morre,a imagem é imediatamente desfocada,e a câmera muda de perspectiva.A violência gráfica é pouca durante todo o filme,assim como qualquer apologia a ela.Isso sem falar no nítido moralismo do desfecho da trama.
Quanto a segunda questão,basicamente deve-se ressaltar que é um comentário feito pessoas que não compreendem cinema,ou não tem noção dos problemas do país onde vivem.O que eles queriam ver na tela num filme sobre o Brasil? Mulatas sambando no carnaval? As praias e todas maravilhas naturais do país? Será que todo filme nacional tem que ser uma propaganda turística?

Como já citei antes,"Cidade de Deus" é constantemente comparado a "Pulp Fiction" e outros filmes de Tarantino.Tal comparação não condiz em nada com o propósito dos realizadores,que negam veemente qualquer ligação.Mesmo assim,existem claras influências do cinema dos anos 90.É fácil de enxergar "Os Bons Companheiros" no filme.O ritmo frenético,a edição inteligente e principalmente a narração em off,se assemelham muito com a obra de Scorcese,que por sinal é fã de Meireles.Em algumas cenas a influência pode até ser vista como uma homenagem.Sabe aquela tomada de "Os Bons Companheiros" em que a câmera viaja pelo bar e Ray Liotta vai apresentando as curiosas figuras do local ao espectador? Troque o bar pela favela,Ray Liotta por Alexandre Rodrigues e os mafiosos italianos por bandidos dos morros cariocas,pronto,você tem uma cena de "Cidade de Deus".

Se pudesse estimar uma porcentagem de méritos dos realizadores do filme,atribuiria uns 40% do brilhantismo da obra a Daniel Rezende,o responsável pela edição.Sua influência na forma como a trama se desenvolve e nos truques de câmera é enorme.Talvez a edição seja um dos maiores diferenciais da obra,mas está milhas longe de ser o único.Deve-se aplaudir Bráulio Mantovani pelo roteiro perfeito,César Charlone pela fotografia vívida que muda conforme a trama,o elenco impecável,e é claro,aplausos também para Fernando Meireles,o maestro dessa tão bem orquestrada obra-prima.

nota:9,6

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

BRUNO(2009)
diretor:Larry Charles
roteiro:Sacha Baron Cohen,Anthony Hines,Peter Baynham,Dan Mazer,Jeff Schaffer
elenco:Sacha Baron Cohen


Qual é o limite que o humor negro pode atingir? O que choca a platéia? Você,se sente incomodado em ver um close genital? E uma uretra falante?? Sacha Baron Coehn testa tudo isso e muito mais em seu novo manual de como deixar pessoas constrangidas.Depois do sucesso de "Borat" em 2006,Coehn e Larry Charles resolvem impor mais um desafio ao público,dessa vez cem vezes mais ultrajante e ofensivo,e é claro,ainda deixando mandíbulas doloridas no final da sessão.

"Bruno" pode não repetir a genialidade de "Borat",mas mantém o status de Cohen ainda alto.Embora ele seja odiado na mesma proporção que é aclamado,seu talento é inegável.Na verdade,a comédia é cheia de pessoas talentosas,o que diferencia Sacha dos milhares de stand uppers e imitadores por aí é a sua estupenda originalidade e capacidade de inovação.Sem impor limites a si mesmo,e conservando o bom e velho humor britânico,Cohen é o comediante do momento.

Desde quando estreou como comediante no extinto programa da Sony "Da Ali G Show",Cohen já apresentou suas três faces,um repórter cazaque,um rapper britânico e um repórter gay austríaco.Desde então,ele simplesmente ignorou sua identidade,assumindo de vez as três figuras bizarras que ele mesmo criou.Fazendo apenas algumas pontas como ele mesmo,em filmes como "Sweeney Tood" de Tim Burton.Em 2006 ele aliou-se a Larry Charles, diretor especializado em documentários e polêmica,e juntos chegaram ao consagrado formato "documentário falso" apresentado em "Borat - O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja a América".

Historiador por formação,Cohen sabe muito bem o impacto de sua comédia.E vê nos seus pseudônimos uma forma de expor preconceitos,mostrando a ignorância do próprio espectador ao se sentir ridicularizado.Outro aspecto interessante do humor de Cohen é a sua capacidade ilimitada de fazer piada sobre tudo,até sobre assuntos que as pessoas temem em falar de tão sérios que são.Para ele não existe bom ou mal gosto,existe apenas a meta de fazer o público rir.Em "Bruno",esse meta é alcançada,deixando o engajamento político e social um tanto apagado,mas ainda está presente.

sinopse:Bruno é reporter gay austríaco,que apresenta em seu país um popular programa sobre o mundo fashion.Após uma série de fracassos,ele é demitido do seu trabalho.Para reconsquistar sua popularidade se tornar "o maior megastar austríado desde Hitler",Bruno viaja aos Estados Unidos,usando todos os artifícios possíveis para alcançar a fama.

Do ponto de vista dramático,a questão da história,"Bruno" apresenta uma grande regressão se comparado a "Borat".O novo filme não possui uma trama fixa,ele apenas vai apresentando as tentativas escrotas do protagonista de se tornar celebridade,sem nenhuma uniformidade ou linearidade entre as situações.Uma pena,principalmente se levarmos em conta o tamanho da equipe de roteiristas do filme.

Outro ponto questionável de "Bruno" é a veracidade das"pegadinhas".Se realmente não forem verídicas,são muito bem encenadas.Algumas cenas como a do desfile de moda,já haviam sido noticiadas pelos tablódides de fofoca há algum tempo,quem já não tinha visto:"Comediante britânico causa confusão em importante desfile europeu".Já outras,parecem um pouco absurdas demais,levando muitas vezes o espectador a pensar "mas que anta esse entrevistado!".Se for tudo mentira,é uma pena,mas não chega a tirar a graça da brincadeira.

Em "Borat" apenas o público estritamente moralista e convencional não aprovou ou não entendeu o humos de Cohen.Afinal,o filme era focado em absurdos étnicos e religiosos.Já em "Bruno",além de piadas sobre negros,muçulmanos e anões,existe um forte cunho sexual na produção.Isso certamente chocou muito mais a platéia."Bruno" e seus órgãos sexuais acrobatas causaram um impacto cem vezes maior na platéia.Mesmo tendo uma boa arrecadação nas bilheterias,o índice de aprovação do público foi bem menor.Basta visitar alguns fóruns de debate e entrar no tópico do filme para constatar isso.

Mesmo não causando o mesmo impacto de seu antecessor,"Bruno" continua sendo uma comédia acima da média,um humor incrivelmente subversivo e inteligente.Piadas que ninguém deveria achar graça,mas que causam gargalhadas compulsivas mesmo naqueles que disseram odiar o filme no fim da sessão.Vassup!!!!!

nota:7,3

Sacha Baron Cohen no Letterman:

Bruno no Letterman:

sábado, 29 de agosto de 2009

VALS IM BASHIR - VALSA COM BASHIR(2008)
diretor:Ari Folman
roteiro:Ari Folman

Há dois anos atrás,DePalma teve seu "momento amador" lançando o documentário falso "Redacted".Segundo ele,nem tudo que ocorre numa guerra é divulgado a população,tudo para não deixar o patriotismo morrer e criar uma falsa sensação de orgulho no povo.Se com esse propósito DePalma conseguiu fazer o pior filme de sua carreira(olha que é difícil),o cineasta israelense Ari Folman constrói uma obra instigante e visualmente incrível,que consegue ser muito mais do que "uma animação bem feita".Embora o bordão já seja batido,"Valsa com Bashir" é um soco na boca do estômago de quem o assiste,90 tensos e maravilhosos minutos que marcaram para sempre o cinema do Oriente Médio.

Junho de 1982.Após o assassinado de Bashir Gemayel,presidente recém eleito,é iniciada a 1ª Guerra do Líbano.Cerca de 3.000 palestinos são mortos no massacre de Sabra e Shatila,na periferia de Beirute.A área do massacre era controlada pelo exército israelense,e dentre os soltados estava Ari Folman.Com 19 anos de idade,Folman não sabia porque estava lá,e até hoje não sabe.E vinte anos após o massacre,ele se da conta de que não se recorda de nada ocorrido na época que esteve na milícia.As imagens de carnificina e desespero que testemunhou quando jovem sumiram de sua ocupada cabeça,que hoje dedica-se ao cinema.Em busca das imagens perdidas de sua memória,Folman procura ajuda de outros ex-combatentes da Guerra do Líbano.Essa pode ser tanto o motivo da produção,como também pode ser a sinopse.

Pense no último documentário animado que você viu.Pensou em algum?Não?Claro,porque "Valsa com Bashir" é único documentário animado já feito.Folman utiliza a animação para representar as atrocidades que presenciou sem criar algo gratuito,dispondo dos ilimitados recursos visuais que a animação permite.Sua equipe cria sequências únicas,que nenhuma imagem filmada poderia recriar.Méritos especiais para David Polonsky,que desenhou a maioria das cenas do filme sem a utilizar a rotoscopia(animação em cima de movimentos).

O que impressiona em "Valsa com Bashir" é a sinceridade de Ari Folman.Ele é um dos poucos diretores que dirigiram filmes baseados em experiência próprias.É admirável sua coragem de colocar o dedo na ferida,relatando o período mais sombrio de sua vida e da história do Líbano,e construindo uma obra pró-paz realmente tocante.

Enquanto a Pixar dispõe de quarenta profissionais para cuidar da iluminação de suas produções,Folman e sua equipe eram em torno de oito pessoas,responsáveis por cada frame do filme.Nada contra a empresa de Wall-e,mas a eficiência dos animadores de "Valsa com Bashir" é impressionante.Aliás,toda a parte técnica do filme é incrível.Aliadas ao bom repertório musical as sequências animadas são hipnóticas.Existem limitações,mas elas são poucas.Nos extras do DvD Folman explica o porque em alguns momentos os personagens andam tão devagar:"Se os personagens andam devagar é porque o orçamento do filme era baixo".Se é assim...

O diretor ainda põe em risco sua obra nos minutos finais.Quando faltam apenas dois minutos para acabar,e o espectador ainda se deleita com os desenhos,a animação é substituída por imagens reais do massacre de Sabra e Shatila SPOILER Um vídeo filmado por um cinegrafista de televisão na época do massacre.São mostradas algumas mulheres palestinas em prantos e depois é focado os cadáveres em meio aos escombros.E para finalizar,o último frame mostra o corpo sem vida de uma criança FIM DE SPOILER.Por mais que o espectador passe um bom tempo após o filme o xingando,Folman ainda está em crédito.O que era uma animação bem feita com músicas bacanas se torna um filme forte sobre a Guerra do Líbano.O público leva um banho de realidade,e sai impressionado com o Massarce de Sabra e Shatila,e não com a animação de Ari Folman.

"Valsa com Bashir",assim como outras obras exemplares,nasceu do desespero de seu criador.Desespero transformado em uma obra de arte original,impactante e indispensável.

nota:8,5

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O SOLISTA - THE SOLOIST(2009)
diretor:Joe Wrigth
roteiro:Suzannah Grant
elenco:Robert Downey Jr,Jamie Foxx

Promessa de Oscar,adaptação de best seller,elenco de ouro,o aguardado The Soloist chega aos cinemas.Com todos estes atributos,o filme ainda conta com Joe Wright na direção,diretor que ganhou meu respeito o ano passado com "Desejo e Reparação".Baseado numa história insossa sobre um "homeless" talentoso,"The Soloist" é um trabalho esforçado de Wright,que mesmo com clichês e soluções fáceis,impressiona.

Joe Wright chama a atenção por ser um diretor old school.Não gosta de edição rápida,nem de recursos mirabolantes de narrativa,ele conserva uma formalidade típica dos grandes diretores de épicos como David Lean e Willian Willer.Suas duas obras de renome até agora são filmes de época."Orgulho e Preconceito",seu primeiro trabalho de destaque é uma competente adaptação do clássico livro de Jane Austen,ambientado no final do séc.XVIII.Depois veio Atonement,obra muito bem filmada com influencia Kubrickana,que ficou marcada como um dos melhores filmes de 2007."The Soloist" é o seu primeiro trabalho ambientado nos dias de hoje,e apesar do enredo fraco,a direção de Wrigth chama a atenção,conduzindo a história de maneira brilhante e fazendo um bom uso da narração em off.

sinopse: Steve Lopez é um cronista de um jornal em busca de inspiração.Um dia ele conhece Nathaniel Aryes,um violinista sem-teto que passa os dias tocando para os indiferentes transeuntes das ruas de Nova York.Lopez descobre que o mendigo já estudou em uma das mais respeitadas escolas de música do país,e devido a sua genialidade desenvolveu esquizofrenia.Ao contar a história de Aryes no jornal,Lopez acaba ficando obcecado em ajudar o novo amigo.

Com a ajuda de bem-bolados recursos visuais,o filme recria muito bem a doença de Nathaniel.O medo,o desespero e a loucura ocasionados pela esquizofrenia são sentidos na pele pelo espectador.Infelizmente,após a esquizofrenia do personagem ser revelada,o ritmo do filme cai em queda livre,tornando os últimos vinte minutos de projeção enfadonhos.

Apesar do tédio ser inevitável em alguns momentos,o filme funciona muito bem com cenas individuais.Lembro-me de três lindas cenas que praticamente valem o ingresso:
Cena Incrível 1:Natahaniel toca em seu violoncelo novo pela primeira vez.Tendo apenas Lopez como platéia,ele toca de baixo de um viaduto em plena hora do rush.A câmera viaja segue as andorinhas pelo horizonte infestado de prédios.A música do violoncelo de Nathaniel se transforma num poderoso som de orquestra...
Cena Incrível 2:Nathaniel quando jovem mora em um bairro pobre da cidade.No quarto escuro,á luz trêmula do fogo,ele toca Bethoven no violoncelo.
Cena Incrível 3:Lopez leva Nathaniel para um concerto da Orquestra local.Ao ouvir a música,a câmera foca seus olhos marejados,e depois,mostra uma explosão de cores na tela que alternam conforme a música.Parecido com o que Kubrick fez em 2001

Além da direção de Wrigth,o elenco também brilha.Jamie Foxx,mais uma vez interpretando um músico deficiente,faz um trabalho magnífico.Downey Jr.,um dos atores favoritos do cinema pipoca,também desempenha seu papel com perfeição,não perdendo nada para o colega.Um aspecto interessante do filme é a ínfima participação dos coadjuvantes.Quase toda história é focada apenas nos dois protagonistas,sem acrescentar subtramas e personagens secundários.

"O Solista" possui aquele lado cinema auto-ajuda,querendo passar uma "lição de vida" para o espectador.Deve-se esquecer esse lado da obra,e prestar a atenção na música.O filme retrata toda a aura que envolve o músico quando ele toca seu instrumento com paixão.Além de também ser um ode a música erudita,tão esquecida nos filmes atuais.

nota:7,2

O verdadeiro Ayers tocando(incrível):

domingo, 9 de agosto de 2009

ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO(2008)
diretor:José Mojica Marins
roteiro:José Mojica Marins,Dennisson Ramalho
elenco:José Mojica Marins,Jece Valadão,Milhem Cortaz

Criado em meados da década de sessenta,Zé do Caixão é um dos mais célebres personagens genuinamente brasileiros do cinema nacional.Criado e interpretado por José MojicaMarins,a funesta e irreverente figura do coveiro de unhas longas começou como um projeto de cinema."A Meia Noite Levarei Sua Alma" é o primeiro dos filmes protagonizados e dirigidos por Zé.Foi o primeiro filme de terror brasileiro,e Mojica orgulha muito esse título.A 'fita' é revolucionária,foge de todos os padrões do horror convencional,cria um personagem totalmente original e adiciona elementos da cultura brasileira ao gênero,como crendices e superstições tipicamente brasileiras.Carlos Reinchbah,outro diretor nacional,é um dos reconhecem o feito do colega:
"É o maior marco do cinema instintivo,um filme antropofágico e debochado.Poucas vezes vi uma obra tão brasileira."

Ainda nos anos sessenta,Mojica dirigiu outros três filmes do coveiro:"Esta Noite Encarnarei Seu Cadáver","O Estranho Mundo de Zé do Caixão" e "Ritual Dos Sádicos".Com a chegada da década de setenta o diretor caiu nas pornochanchas.Filmes eróticos exibidos nos cinemas,com seus títulos bizarros e atores globais ainda desconhecidos.Não sou um grande fã dessa fase do cinema brasileiro,deve-se lembrar que até hoje muitos associam o cinema nacional a putaria de baixa qualidade.Talvez Mojica concordasse comigo,pois fez questão de não assinar seu nome nos créditos na maioria das pornochanchadas que trabalhou.Mesmo assim,ainda comandou outros três filmes do Zé do Caixão:"O Exorcismo Negro","A Estranha Hospedaria Dos Prazeres" e "Delírios de Um Anormal".Como não vi nenhum não posso atestar a qualidade deles,mas muitos afirmam ser os piores de sua carreira.

Infelizmente estamos falando de Brasil,um país que nunca valorizou sua cultura.A figura de Zé do Caixão se tornou piada,e para se sustentar,Mojica virou figura frequente dos programas de auditório que entopem o esgoto que é a televisão brasileira,sentando ao lado de Maquito,Tiririca,Pedro de Lara e outras figuras assustadoras.Enquanto isso no exterior,Mojica e seus filmes eram motivos de adoração por cinéfilos amantes do horror.Com o nome "Coffin Joe",o mestre foi redescoberto pela crítica estrangeira,sendo elogiado por revistas como Cult Movies,Billboard e até Cahiers do Cinema.Recebendo os merecidos aplausos que nunca recebeu no seu país de origem.

21 anos depois de seu último filme de cinema,o porno "48 Horas de Sexo Alucinante",Mojica finalmente retorna.Com "Encarnação do Demônio" ele fecha a trilogia composta por "A Meia Noite..."e "Esta Noite...".Com a ajuda de grandes amigos e de figuras da nova safra do cinema brasileiro,Mojica segue a macabra trama do coveiro em busca do filho perfeito.Mais ambicioso,mais sangrento,mais sádico.O filme é o sonho do diretor de 73 anos,que conta com o maior orçamento de sua carreira e também com a apoio dos fãs jovens e da crítica especializada,que antes tanto o massacrou.

sinopse: 40 anos preso numa cela para doentes mentais do presídio local,Zé do Caixão finalmente é libertado.Com a ajuda de seu fiel companheiro Bruno e de seus novos capangas,o coveiro sequestra mulheres pelas ruas da cidade,e depois,as submete a terríveis torturas e testes para achar a mulher que lhe possa dar o filho perfeito.Para barrar seus planos malignos,um padre filho de uma antiga vítima e o capitão da polícia vão a caça do coveiro.

A sensação que o filme dá é que faltou alguém para segurar as rédeas da dupla Mojica/Ramalho.Existe uma demasiada preocupação em situar o público na trama dos dois filmes anteriores,abusando dos flashbacks.O roteiro possui uma séria falha na parte do diálogos,problema que ainda era discreto nos filmes anteriores do diretor,agora chega provocar risos.Dennisson Ramalho,o co-autor,é responsável por nada menos que "Amor Só de Mãe",um curta-metragem gore que barbarizou a platéia pelos festivais onde passou.Essa violência extremada está presente em "Encarnação do Demônio",que por pouco não vira um show nonsense de escatologia.

Apesar de tudo,Mojica mostra que sua mente criativa pouco mudou em relação aos anos 60.,e isso é bom.Ele continua firme,defendendo suas idéias a qualquer custo.Ele com certeza não realizou o filme pensando em qual público ele iria atingir,na censura ou na reação dos mais conservadores.Mojica é a prova viva de que mesmo numa produção grande,com a vinheta da Fox Film no início da projeção,o cinema pode ser uma obra direta da mente de seu autor.

O filme conta com uma direção de arte impecável,combinando os figurinos de Hercovich com os soturnos cenários da cidade de São Paulo amaldiçoada.A música é assinada pelo veterano André Ambujanrra,que mais uma vez faz um ótimo trabalho.Dentro do elenco existe uma certa canastrice,provavelmente proposital,por parte de atores como Jece Valadão e Milhem Cortaz(engraçadíssimo).O próprio Mojica não atua,apenas representa de forma normal ele mesmo.

Muitos se queixaram da baixa bilheteria do filme.Após finalmente vê-lo,vejo que não houve nenhuma injustiça.Ninguém em sã consciência deve esperar uma boa bilheteria de uma obra extrema como "Encarnação do Demônio".O filme não é ruim,mas é digerível apenas para uma pequena parcela do público,portanto qualquer baixo rendimento da obra pode ser justificado.

Mesmo com todos os defeitos,a aura trash proposital,e as atuações canhestas,não há como não admirar a volta de Mojica.Igual a seu personagem,em 40 anos ele não mudou nada.Talvez muitos esperassem mais,como eu,mas as principais missões do filme foram completas:Celebrar o legado de Zé do Caixão e fechar a trilogia da Meia-Noite.José Mojica Marins atesta sua posição de honra no cinema brasileiro,e merece ter seus filmes vistos e revistos.

nota:7,0

Zé no CQC:


domingo, 2 de agosto de 2009

OFFRET - SACRIFÍCIO(1986)
diretor:Andrei Tarkovsky
roteiro:Andrei Tarkovsky
elenco:Erland Josephson,Allan Edwall

Cinema blockbuster é arte?Os filmes de arte são entretenimento?Nunca pude responder estas perguntas,por isso sempre procuro julgar qualquer tipo de filme sob os mesmos critérios.Seja uma megaprodução mainstream americana,ou uma silenciosa obra do cinema europeu.Julgo tudo da mesmo forma,procurando achar semelhanças,defeitos e qualidades,tentando chegar a um veredicto sobre elas.Mas o impacto pós-filme de "Sacrifício" me fez refletir sobre o assunto,sobre os dois lados da moeda na produção de filmes.Seria tudo uma questão de dinheiro?Ou varia conforme a capacidade ou talvez a nacionalidade do realizador?Afinal,que diabos é esse filme do Tarkovsky!?Poesia em forma de cinema?Cinema em forma de poesia?Ou,como diria John Cleese, nonsense?

Andrei Tarkovsky foi o mais genial diretor soviético de todos os tempos.E como é de praxe em um regime comunista,o diretor enfrentou diversos problemas com a censura da antiga URSS.O que o fez aventurar-se em países da Europa Ocidental,dirigindo filmes na Itália e na Suécia."Sacrifício" é um dos filmes produzidos na Suécia,contando com o apoio de vários amigos do diretor,como o mestre sueco Ingmar Bergman.O elenco e o diretor de fotografia são os habituais dos filmes de Bergman,todos suecos."Sacrifício" foi derradeira obra de Tarkovsky,que estava a beira da morte antes mesmo da pós-produção,e basta ver o filme para constatar isso.

sinopse:Uma família celebra na casa de campo o aniversário de seu patriarca Alexander,um jornalista,filósofo,ator e ateu.Já passando por um momento de profunda reflexão existencial,é noticiado na T.V. o início de uma guerra nuclear,um prenúncio do fim do mundo.A crise se instaura na família,e todos entram em desespero.Tomado pelo tensão do momento,Alexander entra em transe,começa a ter alucinações,cumpre profecias proferidas por um carteiro e pede a Deus misericórdia.

"Sacrifício" comunica-se com o espectador de maneira prolixa,através de uma linguagem complexa que limita ao filme a um público mais paciente.Os diálogos quase sempre são carregados com reflexões filosóficas e aspereza.Tarkosky não teve medo de afastar o público de seu filme,ele o convida para um desafio.

O filme foi realizado em meados dos anos 80,com a guerra fria ainda instaurada no mundo.Todos temiam uma possível guerra nuclear,e ninguém duvidava quando algum louco proferia "O fim está próximo".Este clima é sentido na pele espectador desde os primeiros minutos de filme.Tarkovsky cuidou para que cada detalhe,desde a movimentação da câmera até os ruídos que acompanham a trilha,causasse uma sensação de desconforto no espectador.Duas vezes durante o filme,Tarkovsky corta para pequenas tomadas silenciosas em preto e branco de uma cidade desolada pela guerra.E durante esses dois momentos,muitos espectadores podem esconder o olhos,ou até desistir do filme,tudo isso sem precisar ver nenhum corpo exposto ou tortura.

Se a bíblia se passasse nos dias de hoje,"Sacrifício" seria o Apocalipse.Em vários momentos os personagens tomam decisões inusitadas e incompreensíveis como se tentassem salva-los da situação,como se estivessem apelando a ajuda divina.Em um certo momento,Alexander acredita que a salvação seria ele ter uma relação sexual com a criada,que na visão de Otto é uma deusa enviada do céu.Tarkovsky não esclarece o que é alucinação e o que é real,se a ação é concreta ou se são delírios de um ateu arrependido.

O elenco é formado por atores de grande destaque na Suécia.Tudo é interpretado com espantosa naturalidade e com uma notável veia teatral.Erland Joephson,que ja era reconhecido mundialmente,faz aqui um trabalho magnífico.Em um dos seus delírios,o personagem de Josephson desenvolve um impressionante monólogo no qual ele fala com um deus imaginário.A câmera é posicionada de forma que o espectador faça o papel de Deus e Alexander faça suas súplicas a câmera.A cena impressiona e assusta ao mesmo tempo,é a atuação de Josephson aliada ao inigualável talento do diretor.Não é disso que o cinema é feito?

Tecnicamente o filme atinge a perfeição.O diretor de fotografia é Sven Nykvist,o maior colaborador de Bergman.Chegou a trabalhar também com Roman Polansky e Alan J. Pakula,e possúi uma carreira de mais de cento e vinte trabalhos.Mesmo assim,não é exagero dizer que esse seja o seu melhor trabalho.Nykvist muda a textura das cenas conforme o sentimento dos personagens,conforme o clima de tensão.Quando a guerra nuclear ainda não é anunciada,as tomadas são mais coloridas,destacando o verde das paisagens.Já nos momentos de maior desespero,Nykvist torna as imagens acinzentadas,adicionando uma plasticidade impressionante a obra.Nunca a fotografia trabalhou tão bem quanto aqui.

Diferente daqueles filmes ordinários que inundam a produção atual,aqueles que entregam a história mastigada ao espectador,cheios de didatismos prontos e rumos previsíveis."Sacríficio" é uma obra inclassificável,difícil de se ver e criticar,e por isso mesmo merece ser vista e revista.

nota:9,0

Mestre Tarkovsky em ação no set do filme:

quarta-feira, 29 de julho de 2009

ALL ABOUT EVE - A MALVADA(1950)
diretor:Joseph L. Mankiewicz
roteiro:Joseph L. Mankiewicz
elenco:Bette Davis,Anne Baxter

Parece que 1950 foi o ano dos filmes sobre showbiz.Duas obras-primas imortais,sempre citadas por todos os cineastas e cinéfilos do mundo,surgiram neste mesmo ano."Crepúsculo dos Deuses" do mestre Billie Wilder,retratava a figura de uma atriz de cinema falida e fora dos holofotes,e além de consagrar Gloria Swanson,a obra também era um crítica valiaosa ao lado mesquinho da indústria cinematográfica,e a rapidez com a qual ela consagra e afunda seus ídolos.A outra obra é "A Malvada" de Joseph Mankiewicz,focado no mundo do teatro,o filme conta com o brilhantismo da atuação de Bette Davis e dos diálogos inesquecíveis do roteiro perfeito do próprio Mankiewicz.

Mankiewicz não possui uma carreira muito extensa como diretor,mas possúi algumas pérolas importantes no seu currículo.Foi ele o responsável pelo filme mais caro da história,"Cleopatra" com Liz Taylor,e também dirigiu o interessante thriller "Trama Diabólica" nos anos 70.Contudo,Mankiewicz não possuía uma direção muito marcante,e foi muito mais feliz como roteirista.O roteiro de "A Malvada" é baseado num conto da revista "Cosmopolitan" intitulado "The Wisdom os Eve".A partir da premissa simples do artigo,Mankiewicz criou uma trama complexa envolvendo diversas figuras comuns do Showbiz.O crítico especializado,a atriz decadente,a aspirante,o diretor,o roteirista,o produtor... Todos interpretados com perfeição por um elenco de peso,que inclui desde estrelas em ascensão,como Marylin Moore,até atrizes veteranas,o caso de Bette Davis.

sinopse:Margo Channing é uma reconhecida atriz da Brodway,que vive cercada de homens e tietes.Eve Harrington é uma jovem fã de Margo que consegue infiltrar na vida do ídolo.Com a velhice iminente,Margo teme que a garota tome o seu lugar na careira.

Assim como "Crepúsculo dos Deuses",o filme de Mankiewicz possuí um leve tom irônico,ainda que a obra transborde glamour hollywoodiano,"A Malvada" é um retrato ácido da classe artística dos anos cinquenta. SPOILER Mankiewicz criou uma das personagens mais moralmente ambíguas do cinema,Eve.Logo quando o filme começa,vemos ela como uma moça pobre do interior,que perdeu seu amado marido na guerra e se viu obrigada a trabalhar numa cervejaria.Alimentando o sonho de ser atriz,Eve procura seu maior ídolo,Margo,uma aclamada atriz dona de uma irrefutável avareza.Margo acaba gostando de Eve,tornando-a sua secretária.Com o desenrolar da história,a desconfiança de Margo e do espectador sobre Eve vai crescendo,e quando vemos,a tal "Malvada" do título é a mocinha da primeira metade do filme. FIM DE SPOILER.

"A Malvada" é um filme essencial para se entender o showbiz.Faz parte da produtiva década de cinquenta,onde foi produzido um grande número filmes importantíssimos para o cinema que viria pela frente.O apogeu da lendária Bette Davis,o começo da carreira de Marilyn Moore,o melhor filme de Mankiewicz.São apenas alguns detalhes que tornam ainda mais importante essa obra imortal,um obrigação a qualquer amante do cinema.

nota:9,0

segunda-feira, 27 de julho de 2009

DAS CABINET DES DR.CALIGARI-
O GABINETE DO DR.CALIGARI(1920)
diretor:Robert Wiene
roteiro:Hans Janowitz,Carl Mayer
elenco:Werner Krauss,Conrad Veidt

Sempre quando se vai analisar uma obra do gênero horror,é essensial você ter esse filme em mente.Sim,é um filme mudo,fotografado em p/b e sépia.Mas foi ele a primeira obra de cinema a assustar uma platéia,o primeiro filme a utilizar flashbacks,o primeiro filme de terror.Na verdade,boa parte do cinema falado que veio depois se origina dos filmes mudos feitos na Alemanha da década de vinte.

"O Gabinete do Dr.Caligari" é mais uma obra,uma das primeiras,do chamado expressionismo alemão.A mesmas técnicas e objetivos de pintores como Van Gogh e Edvand Munch,começam a ser aplicadas no cinema,que até então era não era visto como arte.A elite intelectual da época considerava os filmes como uma forma de entretenimento de massa,e foi com o expressionismo que o cinema ganhou respeito.Contemporâneos a Robert Wiene,também surgiram na mesma época F.W. Murnau e Fritz Lang,os mais célebres da época.

sinopse:Em um pequeno vilarejo alemão,é realizado uma feira de variedades.Em uma das apresentações,um misterioso senhor chamado "dr.Caligari" apresenta a platéia Cesare,um sonâmbulo que dorme a 23 anos,e que agora acordaria para prever o futuro de qualquer voluntário da platéia.Ao mesmo tempo,uma série de assassinatos sob as mesmas circunstâncias começa a assombrar a população.

Logo com a chegada do cinema falado,muitos afirmavam que o cinema mudo era limitado,e não permitia tramas muito complexas."O Gabinete do Dr.Caligari" comprova exatamente o contrário.O roteiro de Hans Janowitz e Carl Mayer possui constantes reviravoltas e subtramas,e um inigualável final-surpresa.Tecnicamente,o filme também é ousado.Temos aqui o primeiro efeito visual do cinema,quando os letreiros voam pelo cenário e afirmam ao personagem de Wernr Krauss que ele é "Dr.Caligari".

Sendo um filme expressionista,"O Gabinete do Dr.Caligari" lembra uma pintura em movimento.Os cenários,o jogo de luz e sombra,o figurino,tudo é baseado em criações de artistas expressionistas da época.As casas distorcidas,a fotografia ressaltando o sentimento dos personagens,a maquiagem gótica,são aspectos que tornam o filme único e especial,tanto para época quanto para os dias de hoje.

Como se trata de cinema mudo,a trilha sonora era executada ao vivo,portanto existem seis trilhas diferentes,executadas em diferentes épocas.Não faço a menor idéia qual das seis é a versão da cópia que estava a minha disposição,só sei que é uma das trilhas sonoras mais pulsantes e perfeitas que eu já conferi.Imagine o quão fantástica deveria ser a experiência de assistir ao filme com uma orquestra tocando a trilha simultaneamente.Bons tempos...

"O Gabinete do Dr.Caligari" é uma peça histórica importante,um filme artisticamente notável e ao mesmo tempo prazeroso de se ver.É difícil imaginar o que seria do cinema sem essa obra.

nota:10

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Á BOUT DE SOUFFLE - ACOSSADO(1960)
diretor:Jean-Luc Godard
roteiro:Jean-Luc Godard,François Truffant
elenco:Jean Seberg,Jean-Paul Belmondo

Antes de começar a crítica,queria deixar bem claro uma coisa.O nome deste blog não tem nada a ver com o filme.Peguei esse título de uma excelente reportagem da revista "Bravo!",publicada há algum tempo atrás.Se bem que gostaria de ver meu blog relacionado ao filme de Godard.Inventivo,original e muito bem filmado,"Acossado" é uma espécie de romance policial mesclado com comédia romântica.Uma declaração de amor a França e uma nova forma de fazer cinema.

"Á Bout De Souffle" é um dos filmes que marcam o início da nouvelle vague.Tudo começou com um grupo de jovens críticos de cinema.Godard,Rohmer,Truffant e Chabrol,cineastas que mais tarde se consagrariam com seus filmes,publicavam suas idéias na famosa revista "Cahiers Du Cinéma".Elaboraram a "teoria do autor",que colocava em evidência o diretor de cinema,como a importância de um pintor sobre seu quadro,segundo eles,os 'autores de cinema' também influenciavam sua obra de forma plena.Logo no final dos anos cinquenta,os ex-críticos começaram a por em prática a teoria por eles mesmos elaborada.Quebrando as barreiras do cinema comercial,filmando fora dos padrões antes estabelecidos.

Como não vi quase nada de sua filmografia,não posso formular nada sobre o diretor.Mas apenas pela sua biografia já se pode notar a importância de Jean-Luc Godard para a sétima arte.O francês não só revolucionou a crítica de cinema como também revolucionou o próprio cinema."Acossado" é um filme relativamente simples.Rodado em quatro semanas com o roteiro inacabado,o filme é uma obra espontênea,que exigiu muito improviso e talento dos atores.

sinopse: Michael Poiccard é um criminoso que acaba de assassinar um policial.No caminho de fuga ele visita diversas mulheres,até encontrar Patricia,uma estudante americana por quem se apaixona.Michel convence a moça a esconde-lo até receber uma dívida que lhe devem.Apesar de os dois compartilharem um intenso caso de amor,Michael superestima a ingenuidade de Patricia

O filme é um verdadeiro mergulho na juventude sessentista.Os personagens de Godard citam diversas referências culturais contemporâneas a época da produção,trocando idéias sobre cinema,cigarros e música clássica.O mesmo recurso foi utilizado 34 anos depois por Tarantino,que fez da salada cultural uma de suas marcas.Porém,diferente de outras obras de Godard,as referências são apenas culturais,não há sinais de engajamento político na produção.

Um dos maiores diferenciais do filme é a parte técnica.Godard segue a risca a tal "teoria do autor",impondo sua personalidade em cada plano da obra.A narrativa não possui nenhum padrão.Nas primeiras cenas,o protagonista Michael fala diretamente com o espectador,uma maneira criativa de introduzir o público a história.Essa narração com o tempo acaba,e a câmera de Godard não foca um ponto da trama em específico.Câmera ousada,que persegue os atores pelos cenários,tudo filmado com câmera na mão e luz natural.Apesar de ser uma história de amor,se analisado a fundo,"Acossado" é um filme bem subversivo.

Essa subversividade empregada por Godard,influenciou diversos diretores de todos os cantos do mundo.Basta saber até onde o filme deixa de ser influenciado para se tornar cópia.Oito anos depois,meu conterrâneo catarinense Rogério Sganzela,filmou "O Bandido da Luz Vermelha".A mesma quebra de padrões acontece mais uma vez.O protagonista também é um criminoso e também dialoga com espectador durante o filme.Infelizmente,a tal quebra de padrões acaba padronizando o cinema novamente.

Além de tudo que já foi falado,há outro aspecto que chama muito a atenção na obra:Jean Seberg.A deusa da nouvelle vague.Dona de uma beleza e talento raros,a americana rouba a cena todas as vezes que aparece.Não dando chance para o também talentoso Jean-Paul Belmondo.A química entre o casal fictício é notável,percebe-se que os dois atores estavam bem a vontade,improvisando suas falas como se fossem íntimos da câmera.

"Acossado" é um filme simplório,mas que surpreende.Uma importante peça histórica da França e do cinema.Godard dos anos 60 é um diretor em falta nos dias de hoje.

nota:9,0

Um estranho trailer francês:


sábado, 18 de julho de 2009

GOODFELLAS - OS BONS COMPANHEIROS(1990)
diretor:Martin Scorcese
roteiro:Nicholas Pileggi,Martin Scorcese
elenco:Ray Liotta,Robert De Niro,Joe Pesci


Com quase cinquenta anos de carreira,Scorcese é reconhecido como uma dos maiores diretores americanos."GoodFellas",tido como sua melhor obra,é um filme notável,com tomadas virtuosas,diálogos inteligentes e narrativa frenética.Apesar de não ser exatamente original,Scorcese inovou criando um novo jeito de se contar uma história através da narração em off.A grandiosa saga de Henry,Tommy e Jimmy inspirou uma geração de diretores fascinados pela mistura de ritmo frenético com violência gráfica,que acabou sendo a cara do cinema dos anos 90.

Scorsese é,além de diretor renomado,um cinéfilo inveterado.Dirigiu alguns documentários sobre a arte da cinefilia,e também costuma dar alguns pitacos sobre os lançamentos do cinema mundial.Scorsese é tão cinéfilo,que chega a parafrasear diálogos de filmes em suas entrevistas,sem revelar que está parafraseando.Em certa entrevista perguntaram a ele sobre o bairro ítalo-americano onde passou sua infância e ele respondeu "Ou a pessoa virava gângster ou virava padre."A mesma frase é proferida pelo "feio"(personagem de Eli Walach)quando encontra seu irmão na obra-prima "The Good,The Bad and The Ugly".Tal passagem revela até uma certa obsessão o diretor por filmes,mas uma obsessão sadia,que muito contribuiu para a sétima arte.

Mas,convenhamos,Scorsese fez alguns filminhos superestimados.O maior deles é "Os Infiltrados",um ovacionado remake de um filme coreano,que acabou rendendo ao diretor o Oscar de melhor direção e melhor filme."Os Bons Companheiros" não é um remake,mas é trabalhado em cima de clichês.O mafioso que conheceu o crime na infância,a mocinha recatada que se apaixona por um gangster,a queda de um criminoso pelas drogas.Tudo isso já foi visto bem antes da obra de Scorsese,o diretor apenas criou um novo jeito de se contar esses motes aparentemente batidos.

sinopse:Henry é um garoto do Brooklin de ascendência italiana e irlandesa.Logo na adolescência arruma um emprego em um restaurante regido por Gangsters em frente a sua casa.Devotado a se tornar um deles,o garoto abandona a escola e se torna um protegido dos criminosos.Com o tempo ele vai estreitando as relações com Gangsters renomados,e se torna "goodfella" de Tommy e Jimmy,dois criminosos veteranos de personalidade forte.

A parte técnica da obra é irretocável.A começar pela edição inteligente de Thelma Schoonmaker,que praticamente define o filme.A eclética trilha sonora vai do jazz ao punk,com uma seleção esperta de músicas dos anos 50,60 e 70.No elenco,as escolhas são quase todas acertadas.Ray Liotta em seu único papel decente,quando sua carreira ainda prometia muito.Robert De Niro e Joe Pesci são dois dos melhores atores americanos,dispensam comentários.A única atuação não tão boa é Loraine Bracco,atriz fraquinha escalada para um papel importante,não convence nas cenas dramáticas.

Cinco anos depois Scorsese filmou "Cassino",considerado por muitos uma repetição da consagrada fórmula.Por mais que o elenco seja parecido,e também seja um filme sobre máfia,não considero "Casino"uma repetição da mesma fórmula,até acho ele superior a "GoodFellas".Melhor estruturado e original,"Casino" completa "GoodFellas".

"Os Bons Companheiros" injeta uma dose de oxigênio nos filmes de gângsteres,influenciando todo o cinema dos anos 90.Uma obra indispensável e marcante.

Scorsese é um especialista em criar cenas inesquecíveis,"Os Bons Companheiros" é repleto delas.É difícil escolher uma favorita.A longa tomada sem cortes em que Henry entra pelas portas dos fundos com sua esposa,cortando fila,é genial e cheia de possíveis releituras.Eis ela aqui em baixo:
nota:9,0

sexta-feira, 17 de julho de 2009


HARRY POTTER AND THE HALF-BLOOD PRINCE -
HARRY POTTER E O ENIGMA DO PRÍNCIPE(2009)
diretor:David Yates
roteiro:Steve Kloves
elenco:Daniel Radcliffe,Rupert Grint,Emma Watson

Doze anos após o lançamento do primeiro livro,Harry Potter já é uma das sagas literárias de maior sucesso da história,se não 'a' maior.E se não bastassem os livros venderem que nem água,o bruxinho e seus amigos também despontam como uma das cinesséries mais populares que o cinema já viu.São seis filmes,todos com alta arrecadação nas bilheterias e altos índices de aprovação entre os fãs.A autora,J.K. Rowlling,certamente merece aplausos.Mesmo aqueles que acham a série demasiadamente infantil ou mal escrita,reconhecem o mérito da autora britânica mãe de quatro filhos.Eu gosto dos livros,são inventivos e originais,e com certeza acrescentaram muito a literatura,e agora também ao cinema.

A série no cinema tem seus altos e baixos.Já passaram pela série diretores como Chris Columbus,Alfonso Cúaron,Mike Newell e agora David Yates.Com Yates,a série atingiu a melhor forma.Um diretor sem muita experiência,mas muita competência.O roteiro assinado por Steve Kloves,que roteirizou todos os capítulos da série até aqui,consegue extrair a essência das obras de Rowling com perfeição.Kloves sobe cortar os excessos da trama,tornando o ritmo do filme muito mais fluído,e sem muita correria.As quase três horas de filme são agradáveis para qualquer público,atingindo o mesmo feito dos livros.Ainda que muitos pontos da trama sejam incompreensíveis para quem nunca leu ou assistiu Harry Potter.

sinopse: O mundo dos bruxos ameaça o mundo dos trouxas(não-bruxos).Lord Voldemort prepara sua volta,convocando novos seguidores para se tornarem "comensais da morte".Na escola de Hogwarts,o diretor Dumbledore convida o aposentado Slughorn para ser o novo professor de poções.Harry,agora cursando o sexto ano,descobre um livro surrado de poções,onde constam anotações de um misterioso bruxo chamado "Príncipe Mestiço".Ao seguir as anotações,Harry impressiona Slughorn,que acaba revelando detalhes sobre o passado sombrio de Tom Riddle,o Lord Voldemort.

O sexto livro da saga era o mais leve de todos.Yates optou por diminuir a comicidade e tornar o filme o mais sombrio da cinessérie.Algumas cenas tem um clima soturno,que se intensifica próximo ao final,quando os comensais da morte invadem Hogwarts.O alívio cômico é o personagem de Rupert Grint,Rony,e suas trapalhadas.Agora com os personagens e leitores mais velhos,o sexto capítulo também explora mais os relacionamentos amorosos dos bruxinhos.Existe até uma certa tensão sexual entre os personagens,invisível para os infantos mais bem perceptível para o público juvenil.

Se a história já é uma das mais interessantes da saga,o filme também apresenta o melhor conjunto técnico.O encarregado da fotografia é o francês Bruno Delbonnel,um dos profissionais da área mais requisitados da atualidade,responsável por Ameilie Poulain e Across de Universe.E como quase todo filme em que ele trabalha,a fotografia é um dos aspectos que mais chamam a atenção em todo o longa.

O filme também possuí o que a indústria de efeitos especiais tem de melhor na atualidade.Ainda que seja o capítulo da saga com menos cenas de ação,também é o capítulo com os melhores efeitos visuais.A melhor cena do filme,em que Dumbledore e Harry entram em uma caverna cheia de zumbis,é um espetáculo visual,principalmente pelo impressionante efeito da mistura da água com fogo.

Ainda que o encarregado da trilha sonora seja Nicholas Hopper,as composições originais de John Williams também não poderiam faltar.Assim como a música tema de Star Wars e Indiana Jones,a música de Williams para Harry Potter incorpora-se ao filme de maneira incrível.

Devido ao sucesso da franquia,os realizadores não tiveram dificuldades em manter mesmo elenco nos seis filmes.Daniel Radcliffe,o Harry Potter,melhorou muito em comparação com sua pífia atuação dos capítulos anteriores.Muito mais expressivo e competente,assim como a bela Emma Watson e o engraçado Rupert Grint.Destaque também para Alan Rickman intérprete do professor Snape.

Já perto do capítulo final,que será dividido em dois filmes,a cinessérie apresenta seu melhor capítulo até aqui.Um longa maduro,ingênuo mas não infantil e visualmente incrível.Uma pena que nem toda a série tenha sido assim.Que venha "Relíquias da Morte"

nota:7,5

segunda-feira, 13 de julho de 2009

DERSU UZALA(1975)
diretor:Akira Kurosawa
roteiro:Akira Kurosawa,Yuri Nagibin
elenco:Maksim Munzuk,Yuri Solomin

Cinema não é uma competição.Por isso não dou muita importância quando falam em "melhor diretor de todos os tempos","melhor filme de todos os tempos".Mas,quando falam no diretor japonês Akira Kurosawa eu não me seguro e esbravejo:"best fucking director of all time!".Não consigo esconder,nunca um diretor me impressionou tanto com seus filmes como ele.Conseguindo equilibrar estética e dramaturgia,Kurosawa compôs obras que desafiam qualquer crítico a descrevê-las.Após conferir Dersu Uzala,e estar perto de completar a minha peregrinação pela sua filmografia,a única coisa que posso afirmar é que há algo de mágico em seus filmes.

Dersu Uzala é uma belíssima fábula sobre a relação homem-natureza,uma narrativa simples e ao mesmo tempo intensa,guiada por um sábio caçador das selvas russas.Baseado no livro de Vladimir Arsenyev,o roteiro é assinado por Kurosawa em colaboração com o dramaturgo russo Yuri Nagibin.O filme marca o renascimento artístico do diretor.Em 1971,inconformado com a falta de reconhecimento do público japonês diante de suas obras,Kurosawa tentou o suicídio.O incidente fez com que o Japão fechasse as portas para ele.Apenas em 1973 com o apoio da União Soviética,o diretor pode rodar Dersu Uzala,filme pelo qual faturou diversos prêmios mundo afora,inclusive o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.Sobre esse capítulo de sua carreira,Kurosawa deu a enigmática declaração:
“Um desses salmões, não vendo outro caminho, empreendeu uma longa jornada para subir um rio soviético e dar à luz algum caviar. Assim surgiu meu filme Dersu Uzala em 1975. Nem eu penso que seja essa uma coisa ruim. Mas o mais natural, para um salmão japonês, é pôr seus ovos em um rio japonês”

sinopse:Uma expedição com a finalidade de fazer um levantamento topográfico da Sibéria,atravessa a densa floresta soviética.No caminho eles encontram um misterioso e solitário caçador goldi com o nome de Dersu Uzala.O homem demonstra grande sabedoria e conhecimento sobre as leis da natureza,e acaba conquistando a amizade do capitão da expedição,ficando com o cargo de guia dos soldados na obscura floresta.

A misteriosa e apaixonante figura de Dersu é retratada de forma tão convincente e real que logo nas cenas iniciais o espectador desenvolve admiração pelo camponês.Sua humildade e visão simplista do mundo,de certa forma martirizam a figura de Dersu,fazendo dele uma figura não fictícia para o espectador.Kurosawa mostra que todos nos precisamos ter um Dersu Uzala dentro de si.

O pequeno camponês fica apavorado com as leis do homem moderno.Após uma vida inteira vivendo no mato,Dersu muda-se para uma cidade russa do século XX.Não entende porque o homem urbano tem que pagar pela água que bebe("há um monte no rio",profere Dersu),porque não se pode cortar arvores dos parques e como que os cidadãos conseguem morar em caixotes de tijolos.Se Dersu já ficou impressionado com a vida urbana de 1907,imagina como ele se sentiria no século XXI?

A narrativa é linear,sem muitos floreios ou histórias paralelas.É um filme lento,isso deve ser advertido ao espectador mais impaciente.Porém,o ritmo da trama é bem nivelado,mais uma virtude sempre presente nos filmes do japonês.Dersu Uzala poderia ser visto apenas como um exercício de reflexão,com uma mensagem edificante.Mas ele vai além.A parte estética da obra também é caprichada,a fotografia assinada por Fyodor Dobronravov,Yuri Gantman e Asakazu Nakai adiciona ao filme uma plasticidade incrível.O nascer do sol,o pôr do sol,as nevascas,a chuva... nada disso foi tão lindo quanto é em Dersu Uzala.

Se não bastasse,ainda temos um elenco perfeito.Atores sem muita fama,mas com talento imenso.Para começar,temos Maksi Munzuk como Dersu.O falecido ator de carreira breve,não demonstra em nenhum momento parecer um personagem de ficção.Suas expressões,a firmeza com a qual ele profere as crenças e ensinamentos de Dersu,posso facilmente apontar a atuação do senhor Maksi como a melhor da década de 70.Yuiri Solomin,ator que já foi ministro da cultura da Rússia,também interpreta muito bem "kaptain!".

Com Dersu Uzala,Kurosawa mostrou ao mesquinho público japonês sua importância para sétima arte.Um espetáculo visual,um reflexão sobre o contraste homem-natureza,uma obra apaixonante.Mais uma vez,Kurosawa atingiu a perfeição.

nota:10,0