domingo, 9 de agosto de 2009

ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO(2008)
diretor:José Mojica Marins
roteiro:José Mojica Marins,Dennisson Ramalho
elenco:José Mojica Marins,Jece Valadão,Milhem Cortaz

Criado em meados da década de sessenta,Zé do Caixão é um dos mais célebres personagens genuinamente brasileiros do cinema nacional.Criado e interpretado por José MojicaMarins,a funesta e irreverente figura do coveiro de unhas longas começou como um projeto de cinema."A Meia Noite Levarei Sua Alma" é o primeiro dos filmes protagonizados e dirigidos por Zé.Foi o primeiro filme de terror brasileiro,e Mojica orgulha muito esse título.A 'fita' é revolucionária,foge de todos os padrões do horror convencional,cria um personagem totalmente original e adiciona elementos da cultura brasileira ao gênero,como crendices e superstições tipicamente brasileiras.Carlos Reinchbah,outro diretor nacional,é um dos reconhecem o feito do colega:
"É o maior marco do cinema instintivo,um filme antropofágico e debochado.Poucas vezes vi uma obra tão brasileira."

Ainda nos anos sessenta,Mojica dirigiu outros três filmes do coveiro:"Esta Noite Encarnarei Seu Cadáver","O Estranho Mundo de Zé do Caixão" e "Ritual Dos Sádicos".Com a chegada da década de setenta o diretor caiu nas pornochanchas.Filmes eróticos exibidos nos cinemas,com seus títulos bizarros e atores globais ainda desconhecidos.Não sou um grande fã dessa fase do cinema brasileiro,deve-se lembrar que até hoje muitos associam o cinema nacional a putaria de baixa qualidade.Talvez Mojica concordasse comigo,pois fez questão de não assinar seu nome nos créditos na maioria das pornochanchadas que trabalhou.Mesmo assim,ainda comandou outros três filmes do Zé do Caixão:"O Exorcismo Negro","A Estranha Hospedaria Dos Prazeres" e "Delírios de Um Anormal".Como não vi nenhum não posso atestar a qualidade deles,mas muitos afirmam ser os piores de sua carreira.

Infelizmente estamos falando de Brasil,um país que nunca valorizou sua cultura.A figura de Zé do Caixão se tornou piada,e para se sustentar,Mojica virou figura frequente dos programas de auditório que entopem o esgoto que é a televisão brasileira,sentando ao lado de Maquito,Tiririca,Pedro de Lara e outras figuras assustadoras.Enquanto isso no exterior,Mojica e seus filmes eram motivos de adoração por cinéfilos amantes do horror.Com o nome "Coffin Joe",o mestre foi redescoberto pela crítica estrangeira,sendo elogiado por revistas como Cult Movies,Billboard e até Cahiers do Cinema.Recebendo os merecidos aplausos que nunca recebeu no seu país de origem.

21 anos depois de seu último filme de cinema,o porno "48 Horas de Sexo Alucinante",Mojica finalmente retorna.Com "Encarnação do Demônio" ele fecha a trilogia composta por "A Meia Noite..."e "Esta Noite...".Com a ajuda de grandes amigos e de figuras da nova safra do cinema brasileiro,Mojica segue a macabra trama do coveiro em busca do filho perfeito.Mais ambicioso,mais sangrento,mais sádico.O filme é o sonho do diretor de 73 anos,que conta com o maior orçamento de sua carreira e também com a apoio dos fãs jovens e da crítica especializada,que antes tanto o massacrou.

sinopse: 40 anos preso numa cela para doentes mentais do presídio local,Zé do Caixão finalmente é libertado.Com a ajuda de seu fiel companheiro Bruno e de seus novos capangas,o coveiro sequestra mulheres pelas ruas da cidade,e depois,as submete a terríveis torturas e testes para achar a mulher que lhe possa dar o filho perfeito.Para barrar seus planos malignos,um padre filho de uma antiga vítima e o capitão da polícia vão a caça do coveiro.

A sensação que o filme dá é que faltou alguém para segurar as rédeas da dupla Mojica/Ramalho.Existe uma demasiada preocupação em situar o público na trama dos dois filmes anteriores,abusando dos flashbacks.O roteiro possui uma séria falha na parte do diálogos,problema que ainda era discreto nos filmes anteriores do diretor,agora chega provocar risos.Dennisson Ramalho,o co-autor,é responsável por nada menos que "Amor Só de Mãe",um curta-metragem gore que barbarizou a platéia pelos festivais onde passou.Essa violência extremada está presente em "Encarnação do Demônio",que por pouco não vira um show nonsense de escatologia.

Apesar de tudo,Mojica mostra que sua mente criativa pouco mudou em relação aos anos 60.,e isso é bom.Ele continua firme,defendendo suas idéias a qualquer custo.Ele com certeza não realizou o filme pensando em qual público ele iria atingir,na censura ou na reação dos mais conservadores.Mojica é a prova viva de que mesmo numa produção grande,com a vinheta da Fox Film no início da projeção,o cinema pode ser uma obra direta da mente de seu autor.

O filme conta com uma direção de arte impecável,combinando os figurinos de Hercovich com os soturnos cenários da cidade de São Paulo amaldiçoada.A música é assinada pelo veterano André Ambujanrra,que mais uma vez faz um ótimo trabalho.Dentro do elenco existe uma certa canastrice,provavelmente proposital,por parte de atores como Jece Valadão e Milhem Cortaz(engraçadíssimo).O próprio Mojica não atua,apenas representa de forma normal ele mesmo.

Muitos se queixaram da baixa bilheteria do filme.Após finalmente vê-lo,vejo que não houve nenhuma injustiça.Ninguém em sã consciência deve esperar uma boa bilheteria de uma obra extrema como "Encarnação do Demônio".O filme não é ruim,mas é digerível apenas para uma pequena parcela do público,portanto qualquer baixo rendimento da obra pode ser justificado.

Mesmo com todos os defeitos,a aura trash proposital,e as atuações canhestas,não há como não admirar a volta de Mojica.Igual a seu personagem,em 40 anos ele não mudou nada.Talvez muitos esperassem mais,como eu,mas as principais missões do filme foram completas:Celebrar o legado de Zé do Caixão e fechar a trilogia da Meia-Noite.José Mojica Marins atesta sua posição de honra no cinema brasileiro,e merece ter seus filmes vistos e revistos.

nota:7,0

Zé no CQC:


Nenhum comentário:

Postar um comentário