sábado, 29 de agosto de 2009

VALS IM BASHIR - VALSA COM BASHIR(2008)
diretor:Ari Folman
roteiro:Ari Folman

Há dois anos atrás,DePalma teve seu "momento amador" lançando o documentário falso "Redacted".Segundo ele,nem tudo que ocorre numa guerra é divulgado a população,tudo para não deixar o patriotismo morrer e criar uma falsa sensação de orgulho no povo.Se com esse propósito DePalma conseguiu fazer o pior filme de sua carreira(olha que é difícil),o cineasta israelense Ari Folman constrói uma obra instigante e visualmente incrível,que consegue ser muito mais do que "uma animação bem feita".Embora o bordão já seja batido,"Valsa com Bashir" é um soco na boca do estômago de quem o assiste,90 tensos e maravilhosos minutos que marcaram para sempre o cinema do Oriente Médio.

Junho de 1982.Após o assassinado de Bashir Gemayel,presidente recém eleito,é iniciada a 1ª Guerra do Líbano.Cerca de 3.000 palestinos são mortos no massacre de Sabra e Shatila,na periferia de Beirute.A área do massacre era controlada pelo exército israelense,e dentre os soltados estava Ari Folman.Com 19 anos de idade,Folman não sabia porque estava lá,e até hoje não sabe.E vinte anos após o massacre,ele se da conta de que não se recorda de nada ocorrido na época que esteve na milícia.As imagens de carnificina e desespero que testemunhou quando jovem sumiram de sua ocupada cabeça,que hoje dedica-se ao cinema.Em busca das imagens perdidas de sua memória,Folman procura ajuda de outros ex-combatentes da Guerra do Líbano.Essa pode ser tanto o motivo da produção,como também pode ser a sinopse.

Pense no último documentário animado que você viu.Pensou em algum?Não?Claro,porque "Valsa com Bashir" é único documentário animado já feito.Folman utiliza a animação para representar as atrocidades que presenciou sem criar algo gratuito,dispondo dos ilimitados recursos visuais que a animação permite.Sua equipe cria sequências únicas,que nenhuma imagem filmada poderia recriar.Méritos especiais para David Polonsky,que desenhou a maioria das cenas do filme sem a utilizar a rotoscopia(animação em cima de movimentos).

O que impressiona em "Valsa com Bashir" é a sinceridade de Ari Folman.Ele é um dos poucos diretores que dirigiram filmes baseados em experiência próprias.É admirável sua coragem de colocar o dedo na ferida,relatando o período mais sombrio de sua vida e da história do Líbano,e construindo uma obra pró-paz realmente tocante.

Enquanto a Pixar dispõe de quarenta profissionais para cuidar da iluminação de suas produções,Folman e sua equipe eram em torno de oito pessoas,responsáveis por cada frame do filme.Nada contra a empresa de Wall-e,mas a eficiência dos animadores de "Valsa com Bashir" é impressionante.Aliás,toda a parte técnica do filme é incrível.Aliadas ao bom repertório musical as sequências animadas são hipnóticas.Existem limitações,mas elas são poucas.Nos extras do DvD Folman explica o porque em alguns momentos os personagens andam tão devagar:"Se os personagens andam devagar é porque o orçamento do filme era baixo".Se é assim...

O diretor ainda põe em risco sua obra nos minutos finais.Quando faltam apenas dois minutos para acabar,e o espectador ainda se deleita com os desenhos,a animação é substituída por imagens reais do massacre de Sabra e Shatila SPOILER Um vídeo filmado por um cinegrafista de televisão na época do massacre.São mostradas algumas mulheres palestinas em prantos e depois é focado os cadáveres em meio aos escombros.E para finalizar,o último frame mostra o corpo sem vida de uma criança FIM DE SPOILER.Por mais que o espectador passe um bom tempo após o filme o xingando,Folman ainda está em crédito.O que era uma animação bem feita com músicas bacanas se torna um filme forte sobre a Guerra do Líbano.O público leva um banho de realidade,e sai impressionado com o Massarce de Sabra e Shatila,e não com a animação de Ari Folman.

"Valsa com Bashir",assim como outras obras exemplares,nasceu do desespero de seu criador.Desespero transformado em uma obra de arte original,impactante e indispensável.

nota:8,5

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O SOLISTA - THE SOLOIST(2009)
diretor:Joe Wrigth
roteiro:Suzannah Grant
elenco:Robert Downey Jr,Jamie Foxx

Promessa de Oscar,adaptação de best seller,elenco de ouro,o aguardado The Soloist chega aos cinemas.Com todos estes atributos,o filme ainda conta com Joe Wright na direção,diretor que ganhou meu respeito o ano passado com "Desejo e Reparação".Baseado numa história insossa sobre um "homeless" talentoso,"The Soloist" é um trabalho esforçado de Wright,que mesmo com clichês e soluções fáceis,impressiona.

Joe Wright chama a atenção por ser um diretor old school.Não gosta de edição rápida,nem de recursos mirabolantes de narrativa,ele conserva uma formalidade típica dos grandes diretores de épicos como David Lean e Willian Willer.Suas duas obras de renome até agora são filmes de época."Orgulho e Preconceito",seu primeiro trabalho de destaque é uma competente adaptação do clássico livro de Jane Austen,ambientado no final do séc.XVIII.Depois veio Atonement,obra muito bem filmada com influencia Kubrickana,que ficou marcada como um dos melhores filmes de 2007."The Soloist" é o seu primeiro trabalho ambientado nos dias de hoje,e apesar do enredo fraco,a direção de Wrigth chama a atenção,conduzindo a história de maneira brilhante e fazendo um bom uso da narração em off.

sinopse: Steve Lopez é um cronista de um jornal em busca de inspiração.Um dia ele conhece Nathaniel Aryes,um violinista sem-teto que passa os dias tocando para os indiferentes transeuntes das ruas de Nova York.Lopez descobre que o mendigo já estudou em uma das mais respeitadas escolas de música do país,e devido a sua genialidade desenvolveu esquizofrenia.Ao contar a história de Aryes no jornal,Lopez acaba ficando obcecado em ajudar o novo amigo.

Com a ajuda de bem-bolados recursos visuais,o filme recria muito bem a doença de Nathaniel.O medo,o desespero e a loucura ocasionados pela esquizofrenia são sentidos na pele pelo espectador.Infelizmente,após a esquizofrenia do personagem ser revelada,o ritmo do filme cai em queda livre,tornando os últimos vinte minutos de projeção enfadonhos.

Apesar do tédio ser inevitável em alguns momentos,o filme funciona muito bem com cenas individuais.Lembro-me de três lindas cenas que praticamente valem o ingresso:
Cena Incrível 1:Natahaniel toca em seu violoncelo novo pela primeira vez.Tendo apenas Lopez como platéia,ele toca de baixo de um viaduto em plena hora do rush.A câmera viaja segue as andorinhas pelo horizonte infestado de prédios.A música do violoncelo de Nathaniel se transforma num poderoso som de orquestra...
Cena Incrível 2:Nathaniel quando jovem mora em um bairro pobre da cidade.No quarto escuro,á luz trêmula do fogo,ele toca Bethoven no violoncelo.
Cena Incrível 3:Lopez leva Nathaniel para um concerto da Orquestra local.Ao ouvir a música,a câmera foca seus olhos marejados,e depois,mostra uma explosão de cores na tela que alternam conforme a música.Parecido com o que Kubrick fez em 2001

Além da direção de Wrigth,o elenco também brilha.Jamie Foxx,mais uma vez interpretando um músico deficiente,faz um trabalho magnífico.Downey Jr.,um dos atores favoritos do cinema pipoca,também desempenha seu papel com perfeição,não perdendo nada para o colega.Um aspecto interessante do filme é a ínfima participação dos coadjuvantes.Quase toda história é focada apenas nos dois protagonistas,sem acrescentar subtramas e personagens secundários.

"O Solista" possui aquele lado cinema auto-ajuda,querendo passar uma "lição de vida" para o espectador.Deve-se esquecer esse lado da obra,e prestar a atenção na música.O filme retrata toda a aura que envolve o músico quando ele toca seu instrumento com paixão.Além de também ser um ode a música erudita,tão esquecida nos filmes atuais.

nota:7,2

O verdadeiro Ayers tocando(incrível):

domingo, 9 de agosto de 2009

ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO(2008)
diretor:José Mojica Marins
roteiro:José Mojica Marins,Dennisson Ramalho
elenco:José Mojica Marins,Jece Valadão,Milhem Cortaz

Criado em meados da década de sessenta,Zé do Caixão é um dos mais célebres personagens genuinamente brasileiros do cinema nacional.Criado e interpretado por José MojicaMarins,a funesta e irreverente figura do coveiro de unhas longas começou como um projeto de cinema."A Meia Noite Levarei Sua Alma" é o primeiro dos filmes protagonizados e dirigidos por Zé.Foi o primeiro filme de terror brasileiro,e Mojica orgulha muito esse título.A 'fita' é revolucionária,foge de todos os padrões do horror convencional,cria um personagem totalmente original e adiciona elementos da cultura brasileira ao gênero,como crendices e superstições tipicamente brasileiras.Carlos Reinchbah,outro diretor nacional,é um dos reconhecem o feito do colega:
"É o maior marco do cinema instintivo,um filme antropofágico e debochado.Poucas vezes vi uma obra tão brasileira."

Ainda nos anos sessenta,Mojica dirigiu outros três filmes do coveiro:"Esta Noite Encarnarei Seu Cadáver","O Estranho Mundo de Zé do Caixão" e "Ritual Dos Sádicos".Com a chegada da década de setenta o diretor caiu nas pornochanchas.Filmes eróticos exibidos nos cinemas,com seus títulos bizarros e atores globais ainda desconhecidos.Não sou um grande fã dessa fase do cinema brasileiro,deve-se lembrar que até hoje muitos associam o cinema nacional a putaria de baixa qualidade.Talvez Mojica concordasse comigo,pois fez questão de não assinar seu nome nos créditos na maioria das pornochanchadas que trabalhou.Mesmo assim,ainda comandou outros três filmes do Zé do Caixão:"O Exorcismo Negro","A Estranha Hospedaria Dos Prazeres" e "Delírios de Um Anormal".Como não vi nenhum não posso atestar a qualidade deles,mas muitos afirmam ser os piores de sua carreira.

Infelizmente estamos falando de Brasil,um país que nunca valorizou sua cultura.A figura de Zé do Caixão se tornou piada,e para se sustentar,Mojica virou figura frequente dos programas de auditório que entopem o esgoto que é a televisão brasileira,sentando ao lado de Maquito,Tiririca,Pedro de Lara e outras figuras assustadoras.Enquanto isso no exterior,Mojica e seus filmes eram motivos de adoração por cinéfilos amantes do horror.Com o nome "Coffin Joe",o mestre foi redescoberto pela crítica estrangeira,sendo elogiado por revistas como Cult Movies,Billboard e até Cahiers do Cinema.Recebendo os merecidos aplausos que nunca recebeu no seu país de origem.

21 anos depois de seu último filme de cinema,o porno "48 Horas de Sexo Alucinante",Mojica finalmente retorna.Com "Encarnação do Demônio" ele fecha a trilogia composta por "A Meia Noite..."e "Esta Noite...".Com a ajuda de grandes amigos e de figuras da nova safra do cinema brasileiro,Mojica segue a macabra trama do coveiro em busca do filho perfeito.Mais ambicioso,mais sangrento,mais sádico.O filme é o sonho do diretor de 73 anos,que conta com o maior orçamento de sua carreira e também com a apoio dos fãs jovens e da crítica especializada,que antes tanto o massacrou.

sinopse: 40 anos preso numa cela para doentes mentais do presídio local,Zé do Caixão finalmente é libertado.Com a ajuda de seu fiel companheiro Bruno e de seus novos capangas,o coveiro sequestra mulheres pelas ruas da cidade,e depois,as submete a terríveis torturas e testes para achar a mulher que lhe possa dar o filho perfeito.Para barrar seus planos malignos,um padre filho de uma antiga vítima e o capitão da polícia vão a caça do coveiro.

A sensação que o filme dá é que faltou alguém para segurar as rédeas da dupla Mojica/Ramalho.Existe uma demasiada preocupação em situar o público na trama dos dois filmes anteriores,abusando dos flashbacks.O roteiro possui uma séria falha na parte do diálogos,problema que ainda era discreto nos filmes anteriores do diretor,agora chega provocar risos.Dennisson Ramalho,o co-autor,é responsável por nada menos que "Amor Só de Mãe",um curta-metragem gore que barbarizou a platéia pelos festivais onde passou.Essa violência extremada está presente em "Encarnação do Demônio",que por pouco não vira um show nonsense de escatologia.

Apesar de tudo,Mojica mostra que sua mente criativa pouco mudou em relação aos anos 60.,e isso é bom.Ele continua firme,defendendo suas idéias a qualquer custo.Ele com certeza não realizou o filme pensando em qual público ele iria atingir,na censura ou na reação dos mais conservadores.Mojica é a prova viva de que mesmo numa produção grande,com a vinheta da Fox Film no início da projeção,o cinema pode ser uma obra direta da mente de seu autor.

O filme conta com uma direção de arte impecável,combinando os figurinos de Hercovich com os soturnos cenários da cidade de São Paulo amaldiçoada.A música é assinada pelo veterano André Ambujanrra,que mais uma vez faz um ótimo trabalho.Dentro do elenco existe uma certa canastrice,provavelmente proposital,por parte de atores como Jece Valadão e Milhem Cortaz(engraçadíssimo).O próprio Mojica não atua,apenas representa de forma normal ele mesmo.

Muitos se queixaram da baixa bilheteria do filme.Após finalmente vê-lo,vejo que não houve nenhuma injustiça.Ninguém em sã consciência deve esperar uma boa bilheteria de uma obra extrema como "Encarnação do Demônio".O filme não é ruim,mas é digerível apenas para uma pequena parcela do público,portanto qualquer baixo rendimento da obra pode ser justificado.

Mesmo com todos os defeitos,a aura trash proposital,e as atuações canhestas,não há como não admirar a volta de Mojica.Igual a seu personagem,em 40 anos ele não mudou nada.Talvez muitos esperassem mais,como eu,mas as principais missões do filme foram completas:Celebrar o legado de Zé do Caixão e fechar a trilogia da Meia-Noite.José Mojica Marins atesta sua posição de honra no cinema brasileiro,e merece ter seus filmes vistos e revistos.

nota:7,0

Zé no CQC:


domingo, 2 de agosto de 2009

OFFRET - SACRIFÍCIO(1986)
diretor:Andrei Tarkovsky
roteiro:Andrei Tarkovsky
elenco:Erland Josephson,Allan Edwall

Cinema blockbuster é arte?Os filmes de arte são entretenimento?Nunca pude responder estas perguntas,por isso sempre procuro julgar qualquer tipo de filme sob os mesmos critérios.Seja uma megaprodução mainstream americana,ou uma silenciosa obra do cinema europeu.Julgo tudo da mesmo forma,procurando achar semelhanças,defeitos e qualidades,tentando chegar a um veredicto sobre elas.Mas o impacto pós-filme de "Sacrifício" me fez refletir sobre o assunto,sobre os dois lados da moeda na produção de filmes.Seria tudo uma questão de dinheiro?Ou varia conforme a capacidade ou talvez a nacionalidade do realizador?Afinal,que diabos é esse filme do Tarkovsky!?Poesia em forma de cinema?Cinema em forma de poesia?Ou,como diria John Cleese, nonsense?

Andrei Tarkovsky foi o mais genial diretor soviético de todos os tempos.E como é de praxe em um regime comunista,o diretor enfrentou diversos problemas com a censura da antiga URSS.O que o fez aventurar-se em países da Europa Ocidental,dirigindo filmes na Itália e na Suécia."Sacrifício" é um dos filmes produzidos na Suécia,contando com o apoio de vários amigos do diretor,como o mestre sueco Ingmar Bergman.O elenco e o diretor de fotografia são os habituais dos filmes de Bergman,todos suecos."Sacrifício" foi derradeira obra de Tarkovsky,que estava a beira da morte antes mesmo da pós-produção,e basta ver o filme para constatar isso.

sinopse:Uma família celebra na casa de campo o aniversário de seu patriarca Alexander,um jornalista,filósofo,ator e ateu.Já passando por um momento de profunda reflexão existencial,é noticiado na T.V. o início de uma guerra nuclear,um prenúncio do fim do mundo.A crise se instaura na família,e todos entram em desespero.Tomado pelo tensão do momento,Alexander entra em transe,começa a ter alucinações,cumpre profecias proferidas por um carteiro e pede a Deus misericórdia.

"Sacrifício" comunica-se com o espectador de maneira prolixa,através de uma linguagem complexa que limita ao filme a um público mais paciente.Os diálogos quase sempre são carregados com reflexões filosóficas e aspereza.Tarkosky não teve medo de afastar o público de seu filme,ele o convida para um desafio.

O filme foi realizado em meados dos anos 80,com a guerra fria ainda instaurada no mundo.Todos temiam uma possível guerra nuclear,e ninguém duvidava quando algum louco proferia "O fim está próximo".Este clima é sentido na pele espectador desde os primeiros minutos de filme.Tarkovsky cuidou para que cada detalhe,desde a movimentação da câmera até os ruídos que acompanham a trilha,causasse uma sensação de desconforto no espectador.Duas vezes durante o filme,Tarkovsky corta para pequenas tomadas silenciosas em preto e branco de uma cidade desolada pela guerra.E durante esses dois momentos,muitos espectadores podem esconder o olhos,ou até desistir do filme,tudo isso sem precisar ver nenhum corpo exposto ou tortura.

Se a bíblia se passasse nos dias de hoje,"Sacrifício" seria o Apocalipse.Em vários momentos os personagens tomam decisões inusitadas e incompreensíveis como se tentassem salva-los da situação,como se estivessem apelando a ajuda divina.Em um certo momento,Alexander acredita que a salvação seria ele ter uma relação sexual com a criada,que na visão de Otto é uma deusa enviada do céu.Tarkovsky não esclarece o que é alucinação e o que é real,se a ação é concreta ou se são delírios de um ateu arrependido.

O elenco é formado por atores de grande destaque na Suécia.Tudo é interpretado com espantosa naturalidade e com uma notável veia teatral.Erland Joephson,que ja era reconhecido mundialmente,faz aqui um trabalho magnífico.Em um dos seus delírios,o personagem de Josephson desenvolve um impressionante monólogo no qual ele fala com um deus imaginário.A câmera é posicionada de forma que o espectador faça o papel de Deus e Alexander faça suas súplicas a câmera.A cena impressiona e assusta ao mesmo tempo,é a atuação de Josephson aliada ao inigualável talento do diretor.Não é disso que o cinema é feito?

Tecnicamente o filme atinge a perfeição.O diretor de fotografia é Sven Nykvist,o maior colaborador de Bergman.Chegou a trabalhar também com Roman Polansky e Alan J. Pakula,e possúi uma carreira de mais de cento e vinte trabalhos.Mesmo assim,não é exagero dizer que esse seja o seu melhor trabalho.Nykvist muda a textura das cenas conforme o sentimento dos personagens,conforme o clima de tensão.Quando a guerra nuclear ainda não é anunciada,as tomadas são mais coloridas,destacando o verde das paisagens.Já nos momentos de maior desespero,Nykvist torna as imagens acinzentadas,adicionando uma plasticidade impressionante a obra.Nunca a fotografia trabalhou tão bem quanto aqui.

Diferente daqueles filmes ordinários que inundam a produção atual,aqueles que entregam a história mastigada ao espectador,cheios de didatismos prontos e rumos previsíveis."Sacríficio" é uma obra inclassificável,difícil de se ver e criticar,e por isso mesmo merece ser vista e revista.

nota:9,0

Mestre Tarkovsky em ação no set do filme: