segunda-feira, 13 de julho de 2009

DERSU UZALA(1975)
diretor:Akira Kurosawa
roteiro:Akira Kurosawa,Yuri Nagibin
elenco:Maksim Munzuk,Yuri Solomin

Cinema não é uma competição.Por isso não dou muita importância quando falam em "melhor diretor de todos os tempos","melhor filme de todos os tempos".Mas,quando falam no diretor japonês Akira Kurosawa eu não me seguro e esbravejo:"best fucking director of all time!".Não consigo esconder,nunca um diretor me impressionou tanto com seus filmes como ele.Conseguindo equilibrar estética e dramaturgia,Kurosawa compôs obras que desafiam qualquer crítico a descrevê-las.Após conferir Dersu Uzala,e estar perto de completar a minha peregrinação pela sua filmografia,a única coisa que posso afirmar é que há algo de mágico em seus filmes.

Dersu Uzala é uma belíssima fábula sobre a relação homem-natureza,uma narrativa simples e ao mesmo tempo intensa,guiada por um sábio caçador das selvas russas.Baseado no livro de Vladimir Arsenyev,o roteiro é assinado por Kurosawa em colaboração com o dramaturgo russo Yuri Nagibin.O filme marca o renascimento artístico do diretor.Em 1971,inconformado com a falta de reconhecimento do público japonês diante de suas obras,Kurosawa tentou o suicídio.O incidente fez com que o Japão fechasse as portas para ele.Apenas em 1973 com o apoio da União Soviética,o diretor pode rodar Dersu Uzala,filme pelo qual faturou diversos prêmios mundo afora,inclusive o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.Sobre esse capítulo de sua carreira,Kurosawa deu a enigmática declaração:
“Um desses salmões, não vendo outro caminho, empreendeu uma longa jornada para subir um rio soviético e dar à luz algum caviar. Assim surgiu meu filme Dersu Uzala em 1975. Nem eu penso que seja essa uma coisa ruim. Mas o mais natural, para um salmão japonês, é pôr seus ovos em um rio japonês”

sinopse:Uma expedição com a finalidade de fazer um levantamento topográfico da Sibéria,atravessa a densa floresta soviética.No caminho eles encontram um misterioso e solitário caçador goldi com o nome de Dersu Uzala.O homem demonstra grande sabedoria e conhecimento sobre as leis da natureza,e acaba conquistando a amizade do capitão da expedição,ficando com o cargo de guia dos soldados na obscura floresta.

A misteriosa e apaixonante figura de Dersu é retratada de forma tão convincente e real que logo nas cenas iniciais o espectador desenvolve admiração pelo camponês.Sua humildade e visão simplista do mundo,de certa forma martirizam a figura de Dersu,fazendo dele uma figura não fictícia para o espectador.Kurosawa mostra que todos nos precisamos ter um Dersu Uzala dentro de si.

O pequeno camponês fica apavorado com as leis do homem moderno.Após uma vida inteira vivendo no mato,Dersu muda-se para uma cidade russa do século XX.Não entende porque o homem urbano tem que pagar pela água que bebe("há um monte no rio",profere Dersu),porque não se pode cortar arvores dos parques e como que os cidadãos conseguem morar em caixotes de tijolos.Se Dersu já ficou impressionado com a vida urbana de 1907,imagina como ele se sentiria no século XXI?

A narrativa é linear,sem muitos floreios ou histórias paralelas.É um filme lento,isso deve ser advertido ao espectador mais impaciente.Porém,o ritmo da trama é bem nivelado,mais uma virtude sempre presente nos filmes do japonês.Dersu Uzala poderia ser visto apenas como um exercício de reflexão,com uma mensagem edificante.Mas ele vai além.A parte estética da obra também é caprichada,a fotografia assinada por Fyodor Dobronravov,Yuri Gantman e Asakazu Nakai adiciona ao filme uma plasticidade incrível.O nascer do sol,o pôr do sol,as nevascas,a chuva... nada disso foi tão lindo quanto é em Dersu Uzala.

Se não bastasse,ainda temos um elenco perfeito.Atores sem muita fama,mas com talento imenso.Para começar,temos Maksi Munzuk como Dersu.O falecido ator de carreira breve,não demonstra em nenhum momento parecer um personagem de ficção.Suas expressões,a firmeza com a qual ele profere as crenças e ensinamentos de Dersu,posso facilmente apontar a atuação do senhor Maksi como a melhor da década de 70.Yuiri Solomin,ator que já foi ministro da cultura da Rússia,também interpreta muito bem "kaptain!".

Com Dersu Uzala,Kurosawa mostrou ao mesquinho público japonês sua importância para sétima arte.Um espetáculo visual,um reflexão sobre o contraste homem-natureza,uma obra apaixonante.Mais uma vez,Kurosawa atingiu a perfeição.

nota:10,0

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