OFFRET - SACRIFÍCIO(1986)
diretor:Andrei Tarkovsky
roteiro:Andrei Tarkovsky
elenco:Erland Josephson,Allan Edwall
diretor:Andrei Tarkovsky
roteiro:Andrei Tarkovsky
elenco:Erland Josephson,Allan Edwall
Cinema blockbuster é arte?Os filmes de arte são entretenimento?Nunca pude responder estas perguntas,por isso sempre procuro julgar qualquer tipo de filme sob os mesmos critérios.Seja uma megaprodução mainstream americana,ou uma silenciosa obra do cinema europeu.Julgo tudo da mesmo forma,procurando achar semelhanças,defeitos e qualidades,tentando chegar a um veredicto sobre elas.Mas o impacto pós-filme de "Sacrifício" me fez refletir sobre o assunto,sobre os dois lados da moeda na produção de filmes.Seria tudo uma questão de dinheiro?Ou varia conforme a capacidade ou talvez a nacionalidade do realizador?Afinal,que diabos é esse filme do Tarkovsky!?Poesia em forma de cinema?Cinema em forma de poesia?Ou,como diria John Cleese, nonsense?
Andrei Tarkovsky foi o mais genial diretor soviético de todos os tempos.E como é de praxe em um regime comunista,o diretor enfrentou diversos problemas com a censura da antiga URSS.O que o fez aventurar-se em países da Europa Ocidental,dirigindo filmes na Itália e na Suécia."Sacrifício" é um dos filmes produzidos na Suécia,contando com o apoio de vários amigos do diretor,como o mestre sueco Ingmar Bergman.O elenco e o diretor de fotografia são os habituais dos filmes de Bergman,todos suecos."Sacrifício" foi derradeira obra de Tarkovsky,que estava a beira da morte antes mesmo da pós-produção,e basta ver o filme para constatar isso.
sinopse:Uma família celebra na casa de campo o aniversário de seu patriarca Alexander,um jornalista,filósofo,ator e ateu.Já passando por um momento de profunda reflexão existencial,é noticiado na T.V. o início de uma guerra nuclear,um prenúncio do fim do mundo.A crise se instaura na família,e todos entram em desespero.Tomado pelo tensão do momento,Alexander entra em transe,começa a ter alucinações,cumpre profecias proferidas por um carteiro e pede a Deus misericórdia.
"Sacrifício" comunica-se com o espectador de maneira prolixa,através de uma linguagem complexa que limita ao filme a um público mais paciente.Os diálogos quase sempre são carregados com reflexões filosóficas e aspereza.Tarkosky não teve medo de afastar o público de seu filme,ele o convida para um desafio.
O filme foi realizado em meados dos anos 80,com a guerra fria ainda instaurada no mundo.Todos temiam uma possível guerra nuclear,e ninguém duvidava quando algum louco proferia "O fim está próximo".Este clima é sentido na pele espectador desde os primeiros minutos de filme.Tarkovsky cuidou para que cada detalhe,desde a movimentação da câmera até os ruídos que acompanham a trilha,causasse uma sensação de desconforto no espectador.Duas vezes durante o filme,Tarkovsky corta para pequenas tomadas silenciosas em preto e branco de uma cidade desolada pela guerra.E durante esses dois momentos,muitos espectadores podem esconder o olhos,ou até desistir do filme,tudo isso sem precisar ver nenhum corpo exposto ou tortura.
Se a bíblia se passasse nos dias de hoje,"Sacrifício" seria o Apocalipse.Em vários momentos os personagens tomam decisões inusitadas e incompreensíveis como se tentassem salva-los da situação,como se estivessem apelando a ajuda divina.Em um certo momento,Alexander acredita que a salvação seria ele ter uma relação sexual com a criada,que na visão de Otto é uma deusa enviada do céu.Tarkovsky não esclarece o que é alucinação e o que é real,se a ação é concreta ou se são delírios de um ateu arrependido.
O elenco é formado por atores de grande destaque na Suécia.Tudo é interpretado com espantosa naturalidade e com uma notável veia teatral.Erland Joephson,que ja era reconhecido mundialmente,faz aqui um trabalho magnífico.Em um dos seus delírios,o personagem de Josephson desenvolve um impressionante monólogo no qual ele fala com um deus imaginário.A câmera é posicionada de forma que o espectador faça o papel de Deus e Alexander faça suas súplicas a câmera.A cena impressiona e assusta ao mesmo tempo,é a atuação de Josephson aliada ao inigualável talento do diretor.Não é disso que o cinema é feito?
Tecnicamente o filme atinge a perfeição.O diretor de fotografia é Sven Nykvist,o maior colaborador de Bergman.Chegou a trabalhar também com Roman Polansky e Alan J. Pakula,e possúi uma carreira de mais de cento e vinte trabalhos.Mesmo assim,não é exagero dizer que esse seja o seu melhor trabalho.Nykvist muda a textura das cenas conforme o sentimento dos personagens,conforme o clima de tensão.Quando a guerra nuclear ainda não é anunciada,as tomadas são mais coloridas,destacando o verde das paisagens.Já nos momentos de maior desespero,Nykvist torna as imagens acinzentadas,adicionando uma plasticidade impressionante a obra.Nunca a fotografia trabalhou tão bem quanto aqui.
Diferente daqueles filmes ordinários que inundam a produção atual,aqueles que entregam a história mastigada ao espectador,cheios de didatismos prontos e rumos previsíveis."Sacríficio" é uma obra inclassificável,difícil de se ver e criticar,e por isso mesmo merece ser vista e revista.
nota:9,0
Mestre Tarkovsky em ação no set do filme:
Andrei Tarkovsky foi o mais genial diretor soviético de todos os tempos.E como é de praxe em um regime comunista,o diretor enfrentou diversos problemas com a censura da antiga URSS.O que o fez aventurar-se em países da Europa Ocidental,dirigindo filmes na Itália e na Suécia."Sacrifício" é um dos filmes produzidos na Suécia,contando com o apoio de vários amigos do diretor,como o mestre sueco Ingmar Bergman.O elenco e o diretor de fotografia são os habituais dos filmes de Bergman,todos suecos."Sacrifício" foi derradeira obra de Tarkovsky,que estava a beira da morte antes mesmo da pós-produção,e basta ver o filme para constatar isso.
sinopse:Uma família celebra na casa de campo o aniversário de seu patriarca Alexander,um jornalista,filósofo,ator e ateu.Já passando por um momento de profunda reflexão existencial,é noticiado na T.V. o início de uma guerra nuclear,um prenúncio do fim do mundo.A crise se instaura na família,e todos entram em desespero.Tomado pelo tensão do momento,Alexander entra em transe,começa a ter alucinações,cumpre profecias proferidas por um carteiro e pede a Deus misericórdia.
"Sacrifício" comunica-se com o espectador de maneira prolixa,através de uma linguagem complexa que limita ao filme a um público mais paciente.Os diálogos quase sempre são carregados com reflexões filosóficas e aspereza.Tarkosky não teve medo de afastar o público de seu filme,ele o convida para um desafio.
O filme foi realizado em meados dos anos 80,com a guerra fria ainda instaurada no mundo.Todos temiam uma possível guerra nuclear,e ninguém duvidava quando algum louco proferia "O fim está próximo".Este clima é sentido na pele espectador desde os primeiros minutos de filme.Tarkovsky cuidou para que cada detalhe,desde a movimentação da câmera até os ruídos que acompanham a trilha,causasse uma sensação de desconforto no espectador.Duas vezes durante o filme,Tarkovsky corta para pequenas tomadas silenciosas em preto e branco de uma cidade desolada pela guerra.E durante esses dois momentos,muitos espectadores podem esconder o olhos,ou até desistir do filme,tudo isso sem precisar ver nenhum corpo exposto ou tortura.
Se a bíblia se passasse nos dias de hoje,"Sacrifício" seria o Apocalipse.Em vários momentos os personagens tomam decisões inusitadas e incompreensíveis como se tentassem salva-los da situação,como se estivessem apelando a ajuda divina.Em um certo momento,Alexander acredita que a salvação seria ele ter uma relação sexual com a criada,que na visão de Otto é uma deusa enviada do céu.Tarkovsky não esclarece o que é alucinação e o que é real,se a ação é concreta ou se são delírios de um ateu arrependido.
O elenco é formado por atores de grande destaque na Suécia.Tudo é interpretado com espantosa naturalidade e com uma notável veia teatral.Erland Joephson,que ja era reconhecido mundialmente,faz aqui um trabalho magnífico.Em um dos seus delírios,o personagem de Josephson desenvolve um impressionante monólogo no qual ele fala com um deus imaginário.A câmera é posicionada de forma que o espectador faça o papel de Deus e Alexander faça suas súplicas a câmera.A cena impressiona e assusta ao mesmo tempo,é a atuação de Josephson aliada ao inigualável talento do diretor.Não é disso que o cinema é feito?
Tecnicamente o filme atinge a perfeição.O diretor de fotografia é Sven Nykvist,o maior colaborador de Bergman.Chegou a trabalhar também com Roman Polansky e Alan J. Pakula,e possúi uma carreira de mais de cento e vinte trabalhos.Mesmo assim,não é exagero dizer que esse seja o seu melhor trabalho.Nykvist muda a textura das cenas conforme o sentimento dos personagens,conforme o clima de tensão.Quando a guerra nuclear ainda não é anunciada,as tomadas são mais coloridas,destacando o verde das paisagens.Já nos momentos de maior desespero,Nykvist torna as imagens acinzentadas,adicionando uma plasticidade impressionante a obra.Nunca a fotografia trabalhou tão bem quanto aqui.
Diferente daqueles filmes ordinários que inundam a produção atual,aqueles que entregam a história mastigada ao espectador,cheios de didatismos prontos e rumos previsíveis."Sacríficio" é uma obra inclassificável,difícil de se ver e criticar,e por isso mesmo merece ser vista e revista.
nota:9,0
Mestre Tarkovsky em ação no set do filme:
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