quinta-feira, 17 de setembro de 2009

STANLEY KUBRICK - A LIFE IN PICURES(2001)
diretor:Jan Harlan

Cada filme seu era uma revolução.Lançava a obra,e era aquele alvoroço na mídia.As platéias lotavam ou boicotavam a obra.A crítica amava ou apedrejava.Não importa o gênero,nunca existiu reação meia-boca.Pode se dizer que Stanley Kubrick era um diretor de extremos.Quando ele encabeçava a realização de uma obra de cinema,passava anos planejando,reescrevendo o roteiro,decorando a trama,pensando no seu próximo passo.Dotado de um perfeccionismo raras vezes visto na arte,pode se dizer que nunca ninguém levou cinema tanto a sério quanto Kubrick.Frame por frame,nos seus 16 filmes ele conseguiu marcar a história da sétima arte 16 vezes.

O documentário de Jan Harlan esclarece muitas coisas sobre a vida do mestre.Avesso a entrevistas,Kubrick vivia recluso e pouco da sua vida pessoal era divulgado.Associando seu comportamento em relação a mídia com suas obras transgressoras e revolucionárias,muito foi dito que Kubrick era um demente.O documentário mostra o diretor como um cidadão normal que vivia em função de sua família e de sua arte.

Os realizadores tiveram o privilégio de contar com depoimentos do mais conceituados diretores americanos contemporâneos a Kubrick.Polack,Scorcese,Allen dão suas impressões sobre a filmografia do homenageado.Assim como entrevistas com atores já dirigidos pelo mestre,profissionais técnicos e críticos de cinema.A narração fica por conta do mala do Tom Cruise,ator o qual seu melhor trabalho foi a última obra de Kubrick.

Bem editado e embalado pelas trilhas dos filmes do diretor,"Imagens de Uma Vida" é prato cheio para cinéfilos que anseiam em descobrir ligações entre a obra e a vida de Kubrick.Alguns podem até ter sensação de que falta algo,simplesmente pela falta de curiosidades excêntricas sobre o mestre.Mas o essencial e o trivial do que se deve saber sobre o mestre está muito bem representado em agradáveis duas horas.

nota:8,0

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

CIDADE DE DEUS(2002)
diretor:Fernando Meireles,Kátia Lund
roteiro:Bráulio Mantovani
elenco:Alexandre Rodrigues,Jõao Firmino,Matheus Nachtergaele

Há 44 anos atrás,Glauber Rocha criou a tal da "estética da fome".Um olhar cinematográfico especial para retratar a miséria do povo brasileiro.Nos seus filmes,Glauber mostrava sua visão mísera sobre a miséria do sertão nordestino.Desenvolvendo suas tramas em ritmo lento e com atuações teatrais,o baiano promoveu a inclusão da cultura brasileira nos filmes nacionais.Ninguém imaginava,que 37 anos depois a pobreza do povo brasileiro no cinema mudaria tanto.Era difícil prever a mudança que os filmes lançados nessas três décadas provocariam na visão dos cineastas brasileiros."Cidade de Deus",é,na sua estrutura narrativa,o extremo oposto dos filmes de Glauber.E,assim como os filmes do baiano,a obra de Fernando Meireles é um divisor de águas do cinema nacional do século XXI.Um drama envolvente,tecnicamente perfeito,que assim como possui influências claras,é também um poço inovação e originalidade.

"Cidade do Deus" envolveu alguns dos melhores profissionais de cinema brasileiros da atualidade.Todos reunidos para falar de um dos temas mais contundentes da produção cinematográfica nacional,a violência urbana.Na verdade,o tema não era tão contundente assim até lançamento do filme,em 2002.A obra gerou inúmeros debates,revelou novos talentos,ganhou prêmios mundo afora,e abriu caminho para vários outros filmes sobre a violência brasileira que viriam pela frente.E se já não bastasse a babação da crítica internacional em cima da obra"Cidade de Deus" tornou-se um dos filmes brasileiros mais populares de todos os tempos,a a violência nua e crua que chocou as platéias estrangeiras,divertiu o público brasileiro,que já adotou a famosa fala:"Dadinho é o c@!#$....." como um bordão popular.Portanto,já não serei o primeiro a ovacionar a obra-prima de Meireles,muito menos o último.

Diferente de Glauber,Fernando Meireles não possui nenhuma estilo próprio,ele procura reinventar-se a cada projeto.Isso mostra sua já assumida preferência em aproximar suas obras do público ao invés da crítica.É impossível defini-lo como um estilo,e sim com suas preferências e preocupações ao realizar um filme.Basta ter em mente que ele é um diretor que possui na sua filmografia um filme infantil "Menino Maluquinho 2" junto com o próprio "Cidade de Deus".Mas,além de tudo,ele é um grande orgulho para todos os cinéfilos brasileiros,que há tempos não tinham um conterrâneo alcançando voôs tão altos.Indicado ao Oscar,e diretor de outros dois excelentes filmes em Hollywood,"Jardineiro Fiel" e "Ensaio Sobre a Cegueira".

sinopse:Buscapé é um menino pobre,habitante da recém-inaugurada comunidade "Cidade de Deus".Com o tempo,a violência toma conta o local,que acaba se tornando uma das mais violentas favelas do Rio de Janeiro.Sensível e desorientado,Buscapé teme a vida de bandido,e busca na fotografia uma salvação.Pelas lentes da sua câmera,ele olha conta a história da favela e seus mais ilustres personagens.

O filme traça um interessante panorama do Rio de Janeiro dos anos 60,70 e 80.Reconstituindo com perfeição o período em nos bailes funk´s se escutava James Brow ao invés de Tati Quebra-Barraco.Todos os elementos culturais pertencentes a cada década estão presentes no filme,que são retratadas de forma linear,em três fases nitidamente distintas entre si.Mesmo assim,o ritmo nunca se perde,e até mesmo o interesse do público que não liga pra esses detalhes é mantido.

As principais críticas ao filme do povo que não gostou são:
1.Cidade de Deus glorifica a violência.
2.O filme passa uma imagem ruim do Brasil para o público estrangeiro.
Não considero o filme perfeito,impecável,mas não consigo compreender as duas afirmações.A primeira é a mais absurda."Cidade de Deus" é um dos mais bonitos manifestos pró-paz já feitos no cinema.Diferente do 'neo-noir tarantinesco' no qual o filme é muitas vezes erroneamente comparado,é explícito em cada cena de violência a discrição no qual Meireles e sua equipe tratam o tema.Sempre quando alguém morre,a imagem é imediatamente desfocada,e a câmera muda de perspectiva.A violência gráfica é pouca durante todo o filme,assim como qualquer apologia a ela.Isso sem falar no nítido moralismo do desfecho da trama.
Quanto a segunda questão,basicamente deve-se ressaltar que é um comentário feito pessoas que não compreendem cinema,ou não tem noção dos problemas do país onde vivem.O que eles queriam ver na tela num filme sobre o Brasil? Mulatas sambando no carnaval? As praias e todas maravilhas naturais do país? Será que todo filme nacional tem que ser uma propaganda turística?

Como já citei antes,"Cidade de Deus" é constantemente comparado a "Pulp Fiction" e outros filmes de Tarantino.Tal comparação não condiz em nada com o propósito dos realizadores,que negam veemente qualquer ligação.Mesmo assim,existem claras influências do cinema dos anos 90.É fácil de enxergar "Os Bons Companheiros" no filme.O ritmo frenético,a edição inteligente e principalmente a narração em off,se assemelham muito com a obra de Scorcese,que por sinal é fã de Meireles.Em algumas cenas a influência pode até ser vista como uma homenagem.Sabe aquela tomada de "Os Bons Companheiros" em que a câmera viaja pelo bar e Ray Liotta vai apresentando as curiosas figuras do local ao espectador? Troque o bar pela favela,Ray Liotta por Alexandre Rodrigues e os mafiosos italianos por bandidos dos morros cariocas,pronto,você tem uma cena de "Cidade de Deus".

Se pudesse estimar uma porcentagem de méritos dos realizadores do filme,atribuiria uns 40% do brilhantismo da obra a Daniel Rezende,o responsável pela edição.Sua influência na forma como a trama se desenvolve e nos truques de câmera é enorme.Talvez a edição seja um dos maiores diferenciais da obra,mas está milhas longe de ser o único.Deve-se aplaudir Bráulio Mantovani pelo roteiro perfeito,César Charlone pela fotografia vívida que muda conforme a trama,o elenco impecável,e é claro,aplausos também para Fernando Meireles,o maestro dessa tão bem orquestrada obra-prima.

nota:9,6

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

BRUNO(2009)
diretor:Larry Charles
roteiro:Sacha Baron Cohen,Anthony Hines,Peter Baynham,Dan Mazer,Jeff Schaffer
elenco:Sacha Baron Cohen


Qual é o limite que o humor negro pode atingir? O que choca a platéia? Você,se sente incomodado em ver um close genital? E uma uretra falante?? Sacha Baron Coehn testa tudo isso e muito mais em seu novo manual de como deixar pessoas constrangidas.Depois do sucesso de "Borat" em 2006,Coehn e Larry Charles resolvem impor mais um desafio ao público,dessa vez cem vezes mais ultrajante e ofensivo,e é claro,ainda deixando mandíbulas doloridas no final da sessão.

"Bruno" pode não repetir a genialidade de "Borat",mas mantém o status de Cohen ainda alto.Embora ele seja odiado na mesma proporção que é aclamado,seu talento é inegável.Na verdade,a comédia é cheia de pessoas talentosas,o que diferencia Sacha dos milhares de stand uppers e imitadores por aí é a sua estupenda originalidade e capacidade de inovação.Sem impor limites a si mesmo,e conservando o bom e velho humor britânico,Cohen é o comediante do momento.

Desde quando estreou como comediante no extinto programa da Sony "Da Ali G Show",Cohen já apresentou suas três faces,um repórter cazaque,um rapper britânico e um repórter gay austríaco.Desde então,ele simplesmente ignorou sua identidade,assumindo de vez as três figuras bizarras que ele mesmo criou.Fazendo apenas algumas pontas como ele mesmo,em filmes como "Sweeney Tood" de Tim Burton.Em 2006 ele aliou-se a Larry Charles, diretor especializado em documentários e polêmica,e juntos chegaram ao consagrado formato "documentário falso" apresentado em "Borat - O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja a América".

Historiador por formação,Cohen sabe muito bem o impacto de sua comédia.E vê nos seus pseudônimos uma forma de expor preconceitos,mostrando a ignorância do próprio espectador ao se sentir ridicularizado.Outro aspecto interessante do humor de Cohen é a sua capacidade ilimitada de fazer piada sobre tudo,até sobre assuntos que as pessoas temem em falar de tão sérios que são.Para ele não existe bom ou mal gosto,existe apenas a meta de fazer o público rir.Em "Bruno",esse meta é alcançada,deixando o engajamento político e social um tanto apagado,mas ainda está presente.

sinopse:Bruno é reporter gay austríaco,que apresenta em seu país um popular programa sobre o mundo fashion.Após uma série de fracassos,ele é demitido do seu trabalho.Para reconsquistar sua popularidade se tornar "o maior megastar austríado desde Hitler",Bruno viaja aos Estados Unidos,usando todos os artifícios possíveis para alcançar a fama.

Do ponto de vista dramático,a questão da história,"Bruno" apresenta uma grande regressão se comparado a "Borat".O novo filme não possui uma trama fixa,ele apenas vai apresentando as tentativas escrotas do protagonista de se tornar celebridade,sem nenhuma uniformidade ou linearidade entre as situações.Uma pena,principalmente se levarmos em conta o tamanho da equipe de roteiristas do filme.

Outro ponto questionável de "Bruno" é a veracidade das"pegadinhas".Se realmente não forem verídicas,são muito bem encenadas.Algumas cenas como a do desfile de moda,já haviam sido noticiadas pelos tablódides de fofoca há algum tempo,quem já não tinha visto:"Comediante britânico causa confusão em importante desfile europeu".Já outras,parecem um pouco absurdas demais,levando muitas vezes o espectador a pensar "mas que anta esse entrevistado!".Se for tudo mentira,é uma pena,mas não chega a tirar a graça da brincadeira.

Em "Borat" apenas o público estritamente moralista e convencional não aprovou ou não entendeu o humos de Cohen.Afinal,o filme era focado em absurdos étnicos e religiosos.Já em "Bruno",além de piadas sobre negros,muçulmanos e anões,existe um forte cunho sexual na produção.Isso certamente chocou muito mais a platéia."Bruno" e seus órgãos sexuais acrobatas causaram um impacto cem vezes maior na platéia.Mesmo tendo uma boa arrecadação nas bilheterias,o índice de aprovação do público foi bem menor.Basta visitar alguns fóruns de debate e entrar no tópico do filme para constatar isso.

Mesmo não causando o mesmo impacto de seu antecessor,"Bruno" continua sendo uma comédia acima da média,um humor incrivelmente subversivo e inteligente.Piadas que ninguém deveria achar graça,mas que causam gargalhadas compulsivas mesmo naqueles que disseram odiar o filme no fim da sessão.Vassup!!!!!

nota:7,3

Sacha Baron Cohen no Letterman:

Bruno no Letterman: