domingo, 31 de janeiro de 2010

SEDE DE SANGUE - BAKJWI(2009)
diretor:Chan-Wook Park
roteiro:Chan-Wook Park,Seo-Gyeong Jeong
elenco:Kang-Ho Song,Ok-Bin Kim


Sempre gostei de diretores que criam uma identidade dentro de seus filmes.Diretores que conseguem reinventar e ainda possuir uma marca forte.O coreano Chan-Wook Park criou a sua logo no seu primeiro filme,e continuou chamando os holofotes até 2003,quando lançou o aclamado,amado,odiado e detestado Oldboy.E estes mesmo adjetivos servem para ilustrar a reação do público com o resto de sua filmografia.Mas Park não pretende apenas ser controverso,sua visão lúdica e violenta do cinema é uma luz de originalidade e reinvenção no aparente marasmo do cinema mundial.Sede de Sangue,não poderia deixar de representar tudo isso.

A trama reinventa a fórmula clássica do vampirismo,de uma maneira irônica,surreal,erótica e mórbida.Tudo começa com um padre bom-samaritano que trabalha num asilo,onde convive diariamente com a morte e a dor.Cansado de sua rotina,o padre se torna cobaia de um experimento em busca da cura para um virús letal que assola uma longínqua comunidade.Nenhum dos 50 voluntários do estudo sobreviveu,e o mesmo parecia acontecer com o protagonista.Quando já é dado morto pelos médicos,ele misteriosamente ressuscita e começa a ser recebido como um santo por onde passa.Como tempo,o padre percebe que apesar de são,há algo diferente em si mesmo que o mantém vivo.O sangue.

Após o experimento,o protagonista é perseguido por uma desesperada mãe em busca da cura para a doença do filho.Convencido a acompanhar o doente,o padre acaba conhecendo uma frágil moça que todos dizem ser a esposa do enfermo,mas que na verdade é tratada por todos como uma escrava.Ignorando todos os preceitos de sua formação católica,o padre é envolvido pela misteriosa mulher.Queira me desculpar,mas é inevitável a comparação com Crepúsculo,insuportável febre adolescente da atualidade.Enquanto o casal dos livros de Stephanie Meyer contempla a castidade,o recato, e a pureza dos valores juvenis,os vampiros de Park invocam a sexualidade de maneira quase compulsiva.Os desejos mais lascivos do casal são despertados e postos para fora de maneira animalesca,assim como a sede de sangue.

A trama já é bastante atípica para considerarmos Sede de Sangue um filme diferenciado.Mas ainda não é o bastante para um diretor que adora ir pela contramão.As escolhas de Park nunca são as comuns,seja nos rumos do roteiro ou até no jeito de filmar.Ele raramente opta por enquadramentos simples e frontais,preferindo fazer a câmera 'viajar' pelo cenário,sempre ricamente composto.

Mesmo não sendo o seu melhor filme,Park consegue fazer algo totalmente diferente de trabalhos anteriores,mas sem perder suas características essenciais.E ainda com sua narrativa irregular,Sede de Sangue é um filme que seduz pela sua estética e trama inusitadas.Sangue novo e fresco para o cinema.

nota:8,5
PRECIOUS(2009)
diretor:Lee Daniels
roteiro:Geoffrey Fletcher
elenco:Gabourey Sidibi


Sensacionalista,maniqueísta e insuportável.Esses são um dos poucos adjetivos que cabem há uma certa senhora afro-americana que domina os televisores norte-americanos.E parece que agora,Oprah Winfrey chegou aos cinemas.Imagine aquele talk-show feito para donas-de-casa,insuportavelmente sensacionalista,mostrando no palco uma adolescente de 16 anos,obesa,analfabeta,grávida,pobre e aidética.Agora converta esse programa para um filme,e pronto,temos "Precious".

Tudo o que vemos na tela é uma excreto de imagens desfocadas mostrando a tragédia,somente ela e mais nada.Provoca repulsa a forma como a história desdobra um amontoado de infortúnios na vida de um bando de meras caricaturas de suburbanos nova-iorquinos,proferindo intermináveis diálogos no idioma "motherfucker".

Não digo que a trama é impossível,longe disso,a forma como o filme estabelece a fragilidade dos sistemas assistencialistas é perfeitamente crível.Só que isso é posto estrategicamente no filme como uma forma de acrescentar mais tragédia,mais sentimentalismo gratuito,mais uma forma de sugar as lágrimas daquela dona-de-casa que está na primeira fila do cinema por recomendação do último programa da Oprah.

Tecnicamente,Precious também surpreende.Lee Daniels,o diretor debutante,não faz mais nada além de lembrar o pior de Spike Lee.Não basta uma fotografia chique,ora desfocada ora escura,se o trabalho falha em (quase) todos os outros aspectos.Ainda há as atuações,que são competentes,mas que acabam sendo comprometidas pelo próprio texto.

Se este filme estivesse lá na fundo da prateleira da locadora,esquecido e coberto de poeira,eu até entenderia.Mas Precious tem sido um dos grandes destaques nos noticiários cinematográficos. Acumula 44 prêmios em festivais mundo afora,incluindo Globo de Ouro,Sundance e SAG´s.Além de 6 indicações ao Oscar desse ano,contando com melhor filme.Enfim,Precious vem sendo reconhecido como um exemplo de superação e luta,mas será que é um exemplo de bom cinema?

Antes de assistir,eu já estava com um pé atrás.Isso é um grande erro que cometemos,assistir o filme com preconceitos,devido ao cartaz,sinopse,alguma crítica negativa,ou até o trailer.Porem não vejo como eu poderia odiar um pouquinho menos Precious.Lenny Cravitz está nele!Ele tem umas músicas legais! Enfim,nada pode salvar um filme que está fadado a ser o que é desde sua idéia original.Nada salva um filme que nunca deveria ter existido.

nota:1,0

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Pequenas Críticas,Grandes Filmes(ou não) Parte 2

Katyn(2007)
dirigido por Andrej Wajda
escrito por Przemyslaw Nowakowski
estrelado por Artur Zmijewski

Pouco conheço do cinema polonês,e agora tenho meu primeiro contato com Andrej Wajda.Um senhor de 83 anos com uma extensa e premiada carreira,embora não seja tão celebrado quanto o seu conterrâneo responsável pela trilogia das cores,Kieslowski.Em Katyn,lançado agora em DvD no Brasil,o diretor mostra a eficiência e a mão firme desenvolvida em cinquenta anos de carreira.
Embora a trama seja ambientada na Segunda Guerra,o grande foco do filme é uma parte obscura e voluntariamente esquecida da história mundial:O massacre de estimadamente 20 mil oficiais poloneses na floresta de Katyn.O feito foi atribuído por muitos anos aos nazistas,e apenas com a queda de Stalin é que se comprovou que o assassinato foi ordenado pelos líderes da União Soviéica,que conseguiram obscurecer o fato através da manipulação da mídia.Não há quem não fique assustado com a selvageria e dissimulação dos líderes comunistas,e Wajda não perdoa ninguém,nem mesmo o espectador.
A trama é fora dos padrões,traçando um retrato de diversos familiares de vítimas do massacre,acompanhando a angústia de jovens viúvas e órfãs,a apreensão dos oficiais polacos antes do massacre,e o trabalho de manipulação do governo Soviético.
Tecnicamente impecável,Katyn apresenta uma reconstituição extremamente realista.Wajda não adapta o tragédia para torna-lá digerível ao público,e devido a isso,Katyn é um filme frio,de raso apelo emocional.O espectador não deve esperar um drama novelesco cheio de romance e reviravoltas inesperadas,o filme de Wajda é a realidade somente.
nota:8,0

Jornada Nas Estrelas V - A Última Fronteira(1989)
escrito e dirigido por Willian Shatner
estrelado por Willian Shatner,Leonard Nemoy

Star Trek em seu formato original,é uma série de televisão,mas não quer dizer que ela não funcione em outras mídias,afinal,Gene Roddenberry sempre pensou em criar um universo,não um mero "tv show" de boa audiência.A Última Fronteira,é a quinta jornada estrelar nos cinema,e até então sua mais desprezada e mal-sucedida.O quarto filme,que ficou sob o comando de Leo Nemoy(o Spock),fez um grande sucesso entre fãs e rendeu alto nas bilheterias.Os produtores decidiram deixar o quinto ao encargo do comandante Kirk,Willian Shatner,assim como seguiram suas mirabolantes idéias originais.
A Última Fronteira foi um filme problemático em sua concepção.O orçamento não cobria a grandiosidade das idéias de Shatner,os efeitos especiais falhavam constantemente e várias idéias originais tiveram de ser abandonadas no meio do caminho.Enfim,tudo conspirou contra o que seria o maior de todos os episódios cinematográficos da franquia.Porque se fizermos uma análise,as idéias do excêntrico Willian Shatner são excelentes,e com uma direção segura e alguns dólares a mais poderia se tornar mais uma obra-prima do universo Trekker.
A trama é interessante,e mostra o que seria a "essência sagrada" da série.Após um longo tempo de aposentadoria,a tripulação se reúne novamente numa forçada missão para chegar ao centro do universo,onde acredita-se estar Deus.
O clímax do filme é um tanto bizarro,a falta de uma produção melhor elaborada e um maior orçamento é visível.
Enfim,dá uma tristeza pensar no que poderia ser,vendo o que é.
nota:7,0

Atividade Paranormal(2007)
escrito e dirigido por Oran Peli
estrelado por Katie Featherson e Micah Sloat

Tenho uma natural aversão a filmes artificialmente caseiros,simplesmente por não serem filmes de verdade.Mas,desde que haja originalidade e entretenimento juntos,o resultado pode até ser agradável,como o espanhol [REC].Em Atividade Paranormal,não há um mínimo rastro de inovação,mas com competência e muita sorte,Oran Peli conseguiu divulgar seu filmeco e distribuí-lo pelo mundo.
As vezes é difícil imaginar que uma idéia na sua centésima reciclagem,ainda cause tanto medo e e faça sucesso entre o grande público.Um casal acredita que esta sendo amaldiçoado por espíritos,e então resolve filmar seu sono nada tranquilo.Aí começa o esperado.Uma porta se abre sozinha,uma voz infantil chama o casal pelo nome,ele contratam um "demonologista"(?) e no fim... e no fim...
Não há absolutamente nada para comentar sobre nenhum aspecto do filme.Apenas os últimos divertidos cinco minutos,que fecham o filme com um certo impacto.Até lá,tudo o que Oran Peli faz é encher linguiça.Uma enrolação extremamente chata,mostrando o dia-a-dia do casal finado(ops,falei).
Atividade Paranormal custou 15 mil dólares e rendeu 104 milhões só no U.S.A. É ,acho que ta na hora de levantar meu bundão da cadeira,arrumar uma câmera e fazer um filme de terror.
nota:4,0

Ta Rindo de Quê?(2009)
escrito e dirigido por Judd Apatow
estrelado por Adam Sandler e Seth Rogen
Judd Apatow praticamente domina a indústria da boa comédia,claro que devemos excluir todos os filmes dos irmãos Wayans e aquelas paródias podreiras que ainda chamam muita gente para os cinemas.Apatow não só se tornou um diretor reconhecido,como também pode ser visto como um "caça-talentos",ou seja,ele é um grande produtor do ramo.É ele o cara por trás de pérolas como Superbad,O Virgem de 40 Anos e Ligeiramente Grávidos.Em Funny People,chamado aqui no Brasil de "Ta Rindo do Quê?",Apatow mais uma vez chama seus atores favoritos(Seth Rogen,Leslie Mann,Jonah Hill,entre outros),mais o sumido Adam Sandler e faz um filme mais sério,sem deixar de ser uma comédia,mas com um toque dramático e autoral.
Os primeiros 90 minutos são excelentes,ou seja,é o mesmo Apatow de antes.A dramaticidade é bem dosada,assim como as esdrúxulas e deliciosas piadas com "dick's","pussy's" e "motherfucker´s".Adam Sandler entra em cena ótimo,mostrando aquele ator de dramas que não víamos desde "Punch-Drunk Love".Seth Rogen contracena mais uma vez com a sua versão gorda,Jonah Hill,além de outras inusitadas participações especiais.
A trama conta os últimos dias de um famoso comediante decadente,George Simmons,após ele ser diagnosticado com leucemia.Para continuar sua carreira fazendo comédia stand-up,Simmons conta com a ajuda de um comediante pobre,que vive numa comunidades de pessoas do mesmo ramo.Se o filme acabasse no fim desses 90 minutos,com certeza teríamos mais uma clássico de Apatow.
Mas,infelizmente,o diretor ainda nos reserva mais sofríveis 30 minutos,em que ele transforma o drama cômico do começo num romance água com açúcar.As piadas acabam,o ritmo cai e os bocejos começam.Enfim,Apatow mostra que poderia muito bem chamar Kevin Smith ou qualquer outro diretor de comédias mais experiente que o resultado seria muito melhor.
Mais uma vez,dá uma tristeza pensar no que poderia ser vendo o que é.
nota:6,0

domingo, 24 de janeiro de 2010

Pequenas resenhas,Grandes filmes(ou não)

Muita disposição para ver,pouca para escrever

Duplicidade(2009)
escrito e dirigido por Tony Gilroy
estrelado por Julia Roberts e Clive Owen
Como diz a capa do DvD: "Ainda há inteligência respirando em Hollywood".E realmente,é raro ver um filme como esse,ou melhor,é raro ver um realizador como Tony Gilroy.Responsável por alguns dos mais engenhosos e criativos roteiros da atualidade,Gilroy também mostra eficiência na direção,e ainda conta com a ajuda do irmão,John Gilroy e seu excelente trabalho de edição.
Casais apaixonados e de mal-caráter já não são nenhuma novidade,mas Duplicidade recicla esse clichê contando com uma dupla de atores carismáticos e uma vigorosa trama sobre espionagem coorporativa.Clive Owen e Julia Roberts são dois espiões contratados por duas companhias de cosméticos arqui-rivais,e quando seus caminhos se cruzam,os dois resolvem conspirar contra seus chefes para juntos roubarem uma nova fórmula que irá revolucionar o ramo dos cosméticos.A narrativa repleta de reviravoltas,não é contada em tempo linear,e por isso acaba se tornando confusa em alguns momentos.
Mas mesmo aquele espectador que não acompanhar o emaranhado de conflitos e conspirações,ainda pode encontrar em Duplicidade uma boa diversão.Diferente dos seus trabalhos anteriores,o novo filme de Gilroy é leve e ironiza si próprio a todo momento.
nota:8,2

O Visitante(2007)
escrito e dirigido por Thomas McCarthy
estrelado por Richard Jenkins
Na resenha acima,Duplicidade,um dos coadjuvantes que interpreta o colega de trabalho de Julia Roberts é Thomas McCarthy,assíduo ator coadjuvante e diretor nas horas vagas.O Visitante é o seu trabalho de maior repercussão,que contou com uma merecida indicação ao Oscar de melhor ator para Richard Jenkins.
A trama é simples,original e interessante.Walter é um bem sucedido professor universitário.Viúvo e solitário,ele viaja para uma conferência em Nova York,onde possui um apartamento que não visita há anos.Lá,ele é surpreendido por um casal de imigrantes sírios vivendo em sua propriedade.Inerte a qualquer tipo de reação,Walter não se intimida e permite a permanência dos intrusos.Com o tempo ele envolve-se com a cultura estrangeira,sentindo a vontade de viver que ele antes havia perdido.Quando o jovem músico sírio é flagrado pela polícia como imigrante ilegal,Walter esquece de seus problemas para ajudar o casal.
Tratando de temas atuais e importantes,O Visitante possuí a idéia,mas lhe falta a motivação.O decorrer do filme é arrastado,e faltam a emoção e a sensibilidade que o roteiro pede.Compensa o bom desempenho de Richard Jenkins,no qual o filme se apóia toda hora.
nota:6,0

No Sufoco(2008)
escrito e dirigido por Clark Gregg
estrelado por Sam Rockwell
Livros geniais nem sempre rendem filmes geniais.Não basta ser fiel,pelo contrário,a fidelidade é a responsável pelo insucesso de tantas adaptações equivocadas,que acham que se o filme surgir de uma boa fonte,o sucesso está garantido.E é exatamente aí que entra No Sufoco.
Chuck Palahniuk é um dos mais celebrados autores ingleses contemporâneos.Suas idéias estão sempre focadas na excentricidade,na beleza do incomum,personagens em círculos ajuda,metidos em experiências de auto descoberta.Dessa fonte nasceu um clássico,Clube de Luta.Mas para transformar a água da fonte num clássico,foi necessário a regência de um diretor como David Fincher(Seven,Zodíaco).Choke,o livro,possui todos os elementos da obra que inspirou Clube de Luta,só que nas mãos do estreante Clak Gregg,a adaptação perece ter sido feito as pressas.
Sam Rockwell,interpreta um viciado em sexo,que além do vício,luta contra o Alzihmer de sua mãe embora deseje que ela morra logo.Dentro disso,imagine todo tipo de personagem e situação bizarra que até podem gerar risadas,mas ainda estão longe de compor o instigante retrato existencial do livro.
Sam Rockwell,o protagonista,e Angelica Houston,a mãe,estão ótimos.Infelizmente,o mesmo não pode ser dito do resto do elenco.
Resumindo:Desligue a televisão e vá ler o livro .
nota:5,0