terça-feira, 16 de junho de 2009

12 ANGRY MEN - 12 HOMENS E UMA SENTENÇA(1957)
diretor:Sidney Lumet
roteiro:Reginald Rose
elenco:Henry Fonda,Ed Begley,Jack Warden

Quantas locações são necessárias para compor uma obra-prima?Quantos personagens um filme precisa ter para prender o espectador?Sidney Lumet já respondeu a essas e outras perguntas a exatos 52 anos."12 Angry Men" se passa inteiramente em um sala,possui 12 personagens e apenas 96 minutos de duração.E em todo esse tempo, vemos doze homens discutindo o futuro de um jovem homicida,se ele vai para a cadeira elétrica ou é absolvido.Sem utilizar recursos mirabolantes de narrativa,sem flashbacks,sem sentimentalismo.Lumet criou o filme usando apenas uma arma: o cinema em sua mais pura e perfeita forma.

Os doze homens compõem o júri popular(no Brasil são sete) de um caso chocante de homicídio doloso.Um jovem habitante do subúrbio mata o próprio pai a facadas.O filme começa com o julgamento já no fim,quando os doze homens se reúnem para chegarem a uma conclusão sobre o caso.Para ser dado o veredicto,o resultado da votação deve ser doze a um,sem opiniões divergentes.Logo quando acomodam-se em suas cadeiras,eles decidem fazer uma votação sem debate,pois o veredicto final parece óbvio.O resultado da votação é 11 x 1,com apenas um homem contra a aplicação da pena máxima.Incrédulos,os outros onze o perguntam a razão pelo voto a favor da absolvição.O corajoso homem armado apenas com seus argumentos,da início a um acirrado debate,que se estende até o fim do filme.

Um dos aspectos mais interessantes do filme,é o questionamento que ele faz sobre o sistema judicial.Doze homens que não se conhecem e vivem realidades diferentes tem de decidir o destino de um jovem que também nunca conheceram.As provas,por mais claras que elas sejam,podem ser anuladas pelo acaso.O jurado número oito(Henry Fonda),através dos seus argumentos brilhantes expõe essa parte cega da justiça criminal,e leva o espectador e os outros onze jurados a refletir como nenhum outro filme levou.

Como já falei em críticas passadas,considero Lumet um dos maiores cineastas vivos ainda em atividade,senão o maior.Dono de uma longa e sólida carreira,o senhor de 86 anos continua firme,dirigindo ótimos trabalhos como o recente "Antes Que o Diabo Saiba Você Está Morto".Em "12 Angry Men" ele demonstrou uma habilidade atrás da câmera como pouquíssimos diretores mostraram.E inaugurou uma série de recursos de filmagem posteriormente creditados a outros diretores.Sergio Leone é um dos meus diretores favoritos,mas será que foi ele o criador do "close-up extremo"?Lumet usa e abusa deste e outros recursos que tornam um filme inteiro passado em uma sala numa obra grande.

O roteiro original é assinado por Reginald Rose,falecido autor de extensa carreira na televisão,mas com poucos roteiros de cinema.Seu trabalho aqui é magnífico,poucas vezes se viu diálogos tão marcantes e inteligentes.A personalidade de cada personagem é trabalhada a exaustão.Não pense que você vai ver mocinhos e vilões,cada personagem possui características marcantes e especiais que tornam a trama ainda mais complexa.Rose também diversas vezes muda o curso da história de maneira surpreendente e empolgante,pegando de surpresa o espectador mais atento.

Martin Balsam,John Fiedler,Lee J. Coob,E.G. Marshall,Jack Klugman,Ed Binns,Jack Warden,Henry Fonda,Joseph Sweeney,Ed Begley,George Voskovev,Robert Webber.Esses são os doze homens que compõem o elenco.Desses doze(pasmem!) apenas Jack Klugman está vivo.Todos atuando de forma incrível,no melhor trabalho de suas carreiras.Com destaque especial para Lee J. Coob,Ed Begley e Henry Fonda.Fonda participou do elenco de diversas obras primas,mas em nenhuma ele supera a atuação deste.

Pra mim,achar algum defeito nesse filme é uma tarefa quase impossível.A criatividade e o talento dos envolvidos é tanta,que falar de "12 Angry Men",mesmo coisas boas,é um tarefa difícil.Nunca ninguém igualará o magnífico resultado da fusão das mentes de Lumet e Rose.Isso que eu não falei da linda fotografia de Boris Kaufman,nem da trilha sonora pulsante de Kenyon Hopkins.Tudo o que eu falei aqui é insignificante perante a grandeza do filme,porque ainda existe muita coisa a ser debatida sobre ele

nota:10

segunda-feira, 8 de junho de 2009

CHANGELING - A TROCA(2008)
diretor:Clint Eastwood
roteiro:J. Michael Straczynski
elenco:Angelina Jolie,John Malkovich,Michael Kelly

Apenas alguns meses após ver Gran Torino,até que enfim confiro "A Troca."Dois filme assinados pelo mesmo Clint Eastwood,dois filmes distintos.O primeiro,mais recente,continha um roteiro bem estruturado,direção firme do velho e atuações decentes.Já com "A Troca",a história é diferente.Sem muita inspiração,o drama com Angelina Jolie não convence,e acaba caindo em diversos lugares comuns do dramalhão hollywoodiano.

Dessa vez,vamos começar pelos pontos positivos do filme.A parte técnica.Esteticamente,é um dos filmes mais bem trabalhados de Eastwood.A fotografia é linda,da ao filme um charme especial,contracenando com o exuberante figurino.Tudo remetendo ao gênero noir,com direito a fumaça de cigarro e penumbra.Mas,infelizmente,um dos erros mais cometidos do cinema é a impossibilidade de balancear dramaturgia e técnica,e "A Troca não foge dessa regra.

Jollie é Christine Collins,uma mãe solteira que vive em Los Angeles com seu filho de oito anos.Ao sair para cumprir hora extra,ela deixa o filho sozinho em casa.Quando retorna,ela nota o desaparecimento do menino.Christine busca a ajuda da corrupta polícia de L.A.,que a entrega um menino qualquer para dar o caso como solucionado,e limpar a suja imagem da corporação.

O verídico caso de Christine foi uma das várias evidências de corrupção na polícia de L.A. na década de 20.A idéia não é ruim,mas é mal aproveitada.O veterano roteirista,J.Michael Straczynski,que chegou a trabalhar em seriados lendários como "He-man" e "Babylon 5",tem uma boa parcela da culpa.Ele estende e modifica a história original,criando soluções fáceis e personagens estereotipados.

Um das maiores decepções é Jolie.Seu desempenho é muito fraco,sendo que muitos dizem que esse é o melhor papel da vida dela.O papel podia até ser bom,mas a atuação da moça dos lábios carnudos deixa muito a desejar.Talvez achem que sua beleza compensa a falta de expressão,e talvez por isso ela tenha recebido a injusta indicação ao Oscar09.

Em meio a tantos projetos bons,que provaram sua competência,Eastwood lança uma obra menor."A Troca" é um filme bonito e charmoso,mas extremamente enfadonho.Faltou ousadia e um pouco de competência dos realizadores.Pra quem gosta de Jolie,apesar do seu desempenho não ser bom,o filme é uma boa pedida,a câmera explora sua beleza ao máximo.Mas se você procura um bom drama envolvente a escolha certamente não será essa.

nota:6,0

quinta-feira, 4 de junho de 2009

THE LOST WEEKEND - FARRAPO HUMANO(1945)
diretor:Billy Wilder
roteiro:Charles Brackett
elenco:Ray Millard,Jane Wyman

Billy Wilder é o melhor diretor dos anos quarenta e cinquenta.Essa é minha opinião desde quando eu vi pela primeira vez Crepúsculo dos Deuses.Mestre em comandar histórias envolventes e surpreendentes,Wilder era um realizador talentoso que quase não conheceu o fracasso.Ele poderia dirigir um filme sobre um macaco em busca de uma banana,mesmo assim ele conseguiria capturar o espectador do começo ao fim."Farrapo Humano" é um filme sobre um escritor fracassado e bêbado.Diferente dos seus outro trabalhos,o filme não possui muitos personagens,nem uma trama complexa.O objetivo central do filme é mostrar que o alcoolismo é sim uma doença.E o cumpre isso com louvor.

O título nacional é um dos mais inusitados que eu já vi."Farrapo Humano".Nada a ver com o título original,"The Lost Weekend",que seria "Final de Semana Perdido".O nome tupiniquim é estranho,mas faz sentido.O homem que acompanhamos no filme é um escritor talentoso,mas que graças ao álcool foi reduzido a um mero 'farrapo humano'.Um farrapo como outros tantos bêbados os quais a vida se resume num 'círculo fechado',como o próprio protagonista define.

O filme começa com Don arrumando as malas para um final de semana com o irmão,enquanto o próprio lhe questiona sobre a quantidade de roupa que ele deve levar.Embora a cena pareça comum,através da atuação incrível de Ray Millard o espectador percebe que Don está escondendo algo.Ele parece distante e mau-humorado,algo não está certo.Todos esperam que o motivo de sua aflição seja algo típico dos tradicionais filmes policiais da época.Um encontro com a amante,uma bomba implantada em algum lugar.Mas logo vemos que tudo o que ele queria era um gole de úisque.A partir daí o espectador se vê diante de uma intricada luta entre Don e a bebida.Suas desilusões e seu amor impossível por uma mulher.

Cada trecho da trama constitui-se em uma cena memorável,cenas que ficam na memória do espectador por um bom tempo.Como aquela em que Don vagueia pela ruas atrás de uma loja antiguidades para trocar sua máquina de escrever por bebida.Outro momento inesquecível é quando Don é internado na sessão de alcoólatras do hospital,e percebe o futuro sombrio que o espera.É incrível como tais cenas funcionam tão bem.O segredo está na simples fórmula Wilder do bom cinema:Atores talentosos,roteiro excepcionalmente bem escrito,ritmo fluído e trilha sonora majestosa.A reunião desses quatro elementos resultam no cinema de qualidade que o baixinho sempre apresentou durante toda sua carreira.

Vencedor do Oscar por sua interpretação,Ray Milland encarna Don,um dos melhores alcóolatras do cinema.O papel de Ray não era nada fácil.Don é um personagem com um vício simples mas de um caráter complexo,e praticamente todo o filme gira em torno dele.Milland dá conta do recado e vai além,entregando o melhor trabalho de sua carreira.

O excesso de diálogos metafóricos e a atuação contida Jane Wyman são os únicos defeitos que barram "Farrapo Humano" na lista das maiores obras-primas da carreira de Wilder.Mas não por isso se deve deixar de apreciar o brilhante thriller sobre a mente de um alcóolatra.Sua mensagem pode ter envelhecido um pouco,hoje em dia temos vários outros vícios mais graves e abrangentes que o alcoolismo,mas ela ainda está longe de morrer.Ainda deixo claro que o filme não se resume apenas na sua mensagem,é também uma excelente peça de bom cinema.Recomendado.

nota:8,6